O meu "Lost in Translation" - parte 2

February 25, 2013

Pronto, estou farto destes gajos. Que stress do caraças. Já não me lembrava o que era enfrentar filas de check-in infindáveis que se encrenquilham como uma cobra e depois se ramificam em 20 balcões de check-in. Raios os partam. Atrasados mentais do caraças. Tão desenvolvidos para umas coisas e para outras são uns autênticos retrógrados. Têm Web sites da década passada e o check-in online é coisa que ainda aqui não chegou, excepto Hong-Kong que se mantém à parte. Raios os partam. Que nervos.

Com um voo às 9:20 am, tive que acordar às 5:45, para sair do Hotel de táxi às 6:30 (porque o aeroporto fica a cerca de 50 Kms de Xangai) para chegar lá às 7:30. Isto depois de ter contrariado a sugestão da recepcionista do Hotel que me dizia para sair às 6:00 am, já que era recomendável estar no aeroporto com 2 horas de antecedencia. DUAS HORAS???!!! “Mas é um voo regional”, respondi. “São duas horas antes”, retorquiu. O inglês deles não dá para muito mais e por via das dúvidas optei por não abusar muito e sair do Hotel às 6:30. Ainda assim e numa viagem de taxi a voar no meio de uma nuvem intensa de poluição cheguei ao aeroporto eram 7:15. Parecia mais que suficiente não fosse o cenário caótico que encontrei, que até deu direito a uma cena de pugilato entre chinocas numa das filas de Check-in. Engraçado que a forma de movimentação deles em luta se asssemelha muito à imagem que tenho retida das lutas entre deputados na parlamento que por vezes passam no nosso telejornal.

Meu deus!!!! O que é que é isto? Um aeroporto super moderno que não tem guichets de check-in automático e eu ter que ficar ali desesperadamente aguardando a minha vez amontoado no meio de nativos. Tirem-me deste filme.
Levei uma hora para ser atendido e finalmente pude então sentar-me e saborear um bom capuccino com sabor intenso a café que já não sentia há algum tempo. Fui para a porta de embarque com 30 minutos de antecedencia e já a sinalética indicava “Last Call”. Caraças, lá estava eu outra vez a correr em cima do acontecimento. O folano do guichet rapidamente me identifica como o único ocidental atrasado que faltava entrar no avião e começa a gritar: “SHENZHEN, SHENZHEN.”. Mas calma lá que eu ainda quero ir à casa de banho antes de ai entrar e por isso ignorei-o e segui o meu percurso.

Atrasado claro, mas entrei no avião e consegui ficar sentado ao lado dos 2 únicos americanos que também seguiam naquele avião. Terá sido apenas coincidencia?

Ontem a viagem de TGV foi bem mais tranquila. Sim, mais demorada, ma sem stresses. E, tendo em conta que nao me exigem a presença antecipada 2 horas antes, nem o check-in, então talvez compense mesmo. Ainda bem que tomei a opção do TGV, caso contrário teria sido mesmo insuportável aguentar 2 viagens de avião destas seguidas.

A estadia em Shanghai foi muito rápida mas suficiente para viver a agitação da cidade. Ainda bem que nao fiquei por ali mais que 1 dia. A poluição estava ainda mais intensa que em Pequim. Aliás, desde que o TGV deixou a capital rumo a Xangai e durante 4 horas e meia de viagem fui sempre acompanhado por uma forte neblina de fumo que nunca nos largou. É verdadeiramente impressionante como é que um país promove este estilo de vida. Não estamos a falar de uma única cidade, mas de uma extensa região completamente envolta em poluição. Era lá eu capaz de viver assim. No entanto, isto parece não afligir as centenas de milhões de chineses que convivem pacificamente com este ambiente consporcado. Centenas de milhões a respirar poluição e nada fazem para inverter este sentido. No mínimo exigia-se uma revolução. O filtro da poluição é tal que nos permite fitar directamente o sol sem necessidade de proteger os olhos, aparentado uma simples lua amarela.

Interessante? Sim, Shanghai também é interessante. Por muitos comparada como Nova York do oriente – concordo. Mas com um movimento de pessoas a fazer lembrar as “Ramblas” de Barcelona. Algumas ruas fechadas ao transito com um fluxo super-lotado que quase impossibilita a inversão de marcha. Acho que muito da lotação registada se deve à época de festejos do ano novo. Penso eu. Sim e toda esta agitação, juntamente com uma panóplia colorida de neons que cobrem as fachadas de prédios, também eles de arquitectura irreverente, recria um enquadramento fascinante, onde o simples passeio pelas ruas satisfaz por completo a apreciação desta cidade.

Mas rapidamente, a poucos metros do Hotel e no primeiro ponto de atracção turística, num jardim onde tiro uma fotografia, surge um grupo simpático de 3 orientais que me pergunta se lhes posso tirar uma fotografia. Claro que tiro e retribuem tirando-me uma fotografia também e de seguida dizem-me que são de Pequim e estão ali de passagem de férias. Têm um inglês bastante fluente e numa agradável troca de palavras trocamos algumas das nossas experiências turísticas, a que rapidamente se segue um convite para que me junte a eles no passeio pela cidade - TRIMMMMM. Campaínhas a tocar. Eheheheh lá. Isto não é nada coincidência. “Ah não, obrigado mas tenho que ir comer qualquer coisa.”. “Ok, nós vamos beber chá aqui a um sítio muito típico, não queres vir connosco?”. Nem pensar. “Não gosto de chá e preciso mesmo de almoçar.” E assim despachei-os. Mas já no hotel e numa pesquisa na Web constei que este é outro dos golpes muito usado em Shanghai e nos casos relatados chegam a extorquir-lhes cerca de 2000 Yuen (~230 euros). Ainda durante o meu passeio dessa tarde vi outros grupos de jovens a abordarem turistas com o mesmo esquema.

Seja qual for o tipo de golpe, segue sempre o mesmo padrão: tiras uma foto , és identificado como turista e logo de seguida és abordado. Depois desta cena numa outra das ruas mais movimentadas de Shanghai (Nanjing Road)., começa a 2ª parte: “Hey Sir, lady massage?!”, “no”, “Hey Sir, lady massage?!”, “NO”, “Hey Sir, lady massage?!”, “NO, NO NO NO”. Porra, já chega. Larguem-me. “I am gay”. “Ok Sir, man massage?”. Fod$%#-#e. É PÁ DESAPAREÇAM!!!! Para qualquer lado que me virava era abordado e já nem conseguia apreciar o passeio convenientemente. A coisa só acalmou mesmo quando saí dali.

Este espírito dos miseráveis chineses que se refugiam na extursão é estranho. Como que um workaround que lhes permite manter a imagem de país não violento e simultanemanente roubar incondicionalmente milhares de turistas que os visitam. Dizem que o Brasil é perigoso e no entanto nunca me aconteceu nada nos ínumeros sitios que visitei e durante as longas estadias que lá passei. Claro, não sou otário e não abuso. Já estamos de pré-aviso e basta cumprir as regras básicas de bom senso. Nalgumas viagens de férias até me irritava solenemente aquele sermão inicial do Hotel com todos os cuidados que deviamos ter: não vão para a praia à noite sozinhos, não andem com as máquinas fotográficas expostas, levem só o estritamente necessário, etc. Óbvio, senso comum. E, logo a seguir munido de calcão e chinelos lá ia eu “pêgar o onibus” para a aldeia mais perto e nunca me aconteceu nada.

Aqui por outro lado tentam vendar a pseudo imagem do país não violento, mas depois a cada esquina há alguém a dar o golpe nos turistas. Daquilo que li nalguns foruns, a polícia também nada faz e compactua com estes esquemas. O que mais me choca é que não custava absolutamente nada alertarem os turistas nos hóteis para o golpe das fotografias, mas nada dizem tornando-se cúmplices de um esquema que imancipa nesta cidade.

Finalmente chego a Shenzhen, local da conferência e, deparo-me com um cenário completamente díspar de tudo o resto que via até aqui. Pela primeira vez volto a ver verde. Muito verde. Como o cenário de um país tropical repleto de árvores, plantas e flores exóticas, mas onde tudo está super arrumadinho, estilo parque tecnológicos ala Tagus, Quinta da Fonte, Lagoas, etc. Talvez ainda mais arrumado e muito mais bonito, além do aroma a flores que envolve o ambiente. Finalmente consigo respirar um ar desgrudado de poluição. Até me sinto meio aparvalhado com todo este cenário montado e ainda não estou a realizar bem que isto possa existir na China. Mas parece que sim e agora durante uns dias já não tenho que me preocupar com comboios, passagens aéreas e visitas turisticas.

A conferência começa hoje e também é dia da minha exposição. Encontrei algumas caras conhecidas da última conferência, o que é sempre bom, para não me sentir tão perdido. Previa-se acabar às 8 da noite (hora a que normalmente já estou a bezerrar na cama), mas as discussões prolongaram-se e foi até às 21:00, comigo já a morrer. Terminado o dia e coincidindo com o fim do antibiótico, estava também na hora de matar as saudades de uma boa cerveja. Que bela maneira de terminar o dia.