Passou um mau bocado o nosso Miguelito, mas está melhor agora e sabemos que vai ficar bem. Este será o desfecho desta história que começou há 2, 4, 10 ou 20 dias atrás.
Dia 3 de Setembro, depois da suposta última ecografia de rotina antes do parto é diagnosticado “liquido amniótico reduzido”. O bebé está bem, bom índice de crescimento, cerca de 2,5 Kg, bem oxigenado, nada de alarmante, tirando a falta de líquido amniótico. A Mafalda entra então de baixa, com recomendação de repouso absoluto e obrigada a beber 3 Litros de água por dia.
2 semanas depois tudo na mesma: “liquido amniótico reduzido”, bom índice de crescimento, bem oxigenado, nada de alarmante, tirando a falta de líquido amniótico. A Mafalda contínua de baixa e agora reduz-se o período de repetição das ecografias para 1 semana.
1 semana depois o líquido amniótico passa a “francamente reduzido” e a recomendação de que “isto é para avançar já”. A médica que acompanha a Mafalda confirma o diagnóstico e agenda então a cesariana para daí a 3 dias, 5ª Feira (27 de Setembro).
A partir daqui parece que entramos nos preparativos dos dias que antecedem uma grande viagem para o estrangeiro. Preparar mala, planear com quem ficam os MMs pequenos, montar berço, muda-fraldas, arrumar escritório, montar mais umas prateleiras no armário, arranjar espaço onde não há, etc. Faltam 2 dias. Agora falta 1 dia. E sempre uma sensação de estranheza a acompanhar isto tudo. Nos 2 partos anteriores nunca houve planos. Tudo aconteceu com um sereno alerta da Mafalda que me comunicava discretamente “acho que temos que ir para a maternidade”. Claro que depois tudo durou eternidades: Força do MMMs e Agora com 4Ms. Mas houve sempre aquele efeito surpresa. Agora esta ideia de saber de antemão que no dia X tenho que estar às 8 da manhã na MAC para iniciar os preparativos da cesariana, dava-me uma sensação de desalento desconfortável. Parecia mesmo que estavam a dizer: “Atenção, como se trata de um voo transatlântico tem de estar no aeroporto com uma antecedência mínima de 3 horas para a realização do check-in.” Tal e qual. Até a marcação prévia de véspera do táxi para que tivesse à porta da minha casa às 7:40 para me deixar na MAC, assemelhava-se à mesma tarefa na véspera do voo. Que tédio. Ainda por cima para saber que ia ficar na sala dos totós sem saber o que se estava a passar do outro lado. (para saber mais sobre a sala dos totós leiam os outros 2 relatos).
Na véspera claro que também não faltaram aquela quantidade de pormenores que apenas servem para atrasar ainda mais o nosso descanso. Às 7 da manhã quando toca o despertador, estou com um sono de morrer. Que esforço para me levantar da cama e logo hoje que parece que finalmente arrefeceu um pouco e já sabe tão bem aquele quentinho do aconchego dos lençóis. Toca a levantar e toca a despachar. Mas a greve do metro baralha um pouco os planos, juntamente com o condutor do táxi que era mesmo aquilo a que se pode chamar de um autêntico BANANA. Ainda nem tinha começado a cesariana e já aquele gajo me estava a deixar com uma carrada de nervos. “Raios ta partam. Mas porque é que eu não vim de carro.” E ainda reclamava o condutor: ”Pois, estes gajos deixam meter aqueles tipos que vêem da 2ª circular.” E eu: “E que tal se mudasse aqui para faixa do meio em vez de continuar pela faixa mais à direita? Se calhar resultava e os carros que vêem da 2ª circular já não nos empatavam?” “Isso é o que estou a tentar fazer, mas eles vêem dali a abrir”. AAAaaaa bom, claro. Eles vêem abrir e nós aqui parados. Andorinha do caraças. Raios partam a hora em que decidi meter-me num táxi.
Chegámos era 8:15 e a viagem custou 10 euros - o dobro do que paguei às 15:30 quando regressei a casa. O que vale é que a greve do Metro não nos atrasou só a nós mas também a todas as equipas da MAC. Apesar de tudo às 9 horas já estava a Mafalda preparada de roupão, com o soro espetado na mão e bem refastelada numa poltrona. Chamaram-me para o lado dela e ali ficámos lado a lado cada um na sua poltrona, tipo Archie Bunker e Edith abancados nos seus sofás. 9:30. 10:00. 10:30. Raios partam. Ali parado sem nada para fazer. Mas o que é que se passa? 11:00, 11:30. Já passaram 4 horas do meu pequeno-almoço e já começo a pensar em ir comer. Pelo andar da carruagem o melhor é ir a qualquer lado almoçar e depois voltar, porque já vi que isto não acaba tão cedo.
11:45. Estou nos meus pensamentos e com o estomago a rosnar de fome quando finalmente mandam-nos passar à próxima secção que nem sei bem qual é. Vira num corredor, torna a virar noutro, sobe umas escadas, acho que já estou perdido, chegamos a uma porta e diz a enfermeira: ”Nós vamos por aqui e você vai por ali, contorna isto tudo em meia-lua e espera na porta que diz bloco operatório que eu já la vou ter consigo”.
Lá tentei seguir as indicações e parei à porta que tinha uma tabuleta a dizer bloco operatório. Passado 1 minuto saiu um enfermeiro que deixou a porta entreaberta e eu aproveitei para entrar. Estava numa zona de cacifos. Estranho. Esperei, espreitei e contornei mais duas esquinas e não via nada, até que me cruzei com uma outra enfermeira e expliquei-lhe que estava à espera que me viessem chamar, mas que ainda ninguém tinha aparecido. “Pois o senhor enganou-se e nem se quer devia ter entrado aqui. Venha comigo que levo-o à porta certa.”. Voltámos ao corredor, outro corredor e passámos uma porta de abrir automática que me deixa num pequeno hall onde estava um belo sofá preto. “Pode-se sentar aqui e aguardar.” E eu: “Mas, mas,…”. Mais um minuto passa outra enfermeira e interrogo-a:
Eu: “Disseram-me que vinha aqui alguém ter comigo e ninguém me chama?!”
Enfermeira: “Mas a mãe entrou para cesariana?”
Eu: “Sim.”
Enfermeira: “Quando”
Eu: “Há 5 minutos”
Enfermeira: “Então tem que esperar porque ainda demora.”
Eu: “MAS JÁ COMEÇOU?!”
Enfermeira: “Devem estar agora a dar-lhe a epidural!”
Eu: “Aaaaa bom. Ufa.”
Nisto vejo passar a médica da Mafalda e interpelo-a:
Eu: “Olá Doutora, quando acabarem a epidural chamem-me para dar um beijo à Mafalda antes da cesariana!”
Médica: “Agora já não pode. Ela já está no bloco operatório! Vamos começar a cesariana!”
Eu: “MAS EU NEM ME DESPEDI DELA!!!”
Médica: “AAaaa não sabia. Pendei que você tinha vindo com ela.”
Eu: “CLARO QUE VIM. Mas ninguém nos explicou que isto ia começar agora.”
Médica: “Pronto, espere lá aí bocadinho”
E saiu deparada. Xiça, ali estava eu novamente na sala dos totós e desta vez entrei para ali sem saber como. Das duas vezes que passei pela maternidade Magalhães Coutinho a sala dos totós era uma típica sala de espera com várias cadeiras onde aguardavam ansiosamente 4 ou 5 totós por ver os seus filhos. Aqui a sala resumia-se a 1 hall com 1 única poltrona. Mas que raio?!
Começava a viagem e a longa espera por saber o desfecho. Desta vez, tal como nas outras duas vezes ali estava eu a morrer de fome. Carambas, não há uma única vez que eu saia daqui sem ser desesperado por ir comer! 12:45 a enfermeira vem-me dar a notícia de que o Miguel tinha nascido, estava bem e pesava 3,090 Kg. Boa! Agora só falta eu vê-lo também. “E a mãe?”. “Já está acabar. Estão agora a cozer.” Pelas minhas contas e do que me lembrava do parto da Margarida, seriam mais cerca de 15 minutos. Entretanto e se funcionasse como na Maternidade Magalhães Coutinho, enquanto a mãe sai e não sai, chamavam-me para ver a criança. 15, 20 , 25, 30, 35, 40, 45 minutos. E nada? Carambas! Passa outra enfermeira:
- Eu: “Sabe alguma coisa da Ana Mafalda Carvalho?”
- Enfermeira: “Foi cesariana?”
- Eu: “Siiiiiiiiiim”
- Enfermeira: “Pois, isso demora. Tem que esperar um bocadinho”.
- Eu: “Ok, disseram-me isso à 45 minutos atrás quando me disseram que o meu filho já tinha nascido. Além disso da última vez isto foi muito mais rápido.”
- Enfermeira: “Pois sabe. Mas é que à segunda vez demora mais.”
- Eu: “Mas porquê?”
- Enfermeira: “Porquê?”
- Eu: “Sim, porquê? Qual a diferença?”
- Enfermeira: “Porque entretanto houve tecidos que ficaram colados após a 1ª cesariana e agora têm que descolá-los e arrumá-los no sítio.”
Estamos a falar da minha mulher? Certo? Enfim, esperemos! Isto é de loucos, estou aqui há 2 horas à espera desde que ela entrou para o bloco operatório. Finalmente abrem a porta e vem uma enfermeira com um pequeno berço. É agora. Pelos vistos, aqui é serviço à mesa. Vem aí o Miguelito para conhecer o papá. O miúdo vem cheio de cobertores e mal lhe vejo a cara. Que ansiedade. Dou um passo em frente e descubro-lhe os primeiros tufos de cabelo. Uma carapinha. Uma carapinha preta e densa!? Calma lá. Estes gajos estão a gozar comigo. Trocaram-me o miúdo. Por cima dele numa tabuleta lia-se Josivaldo. A enfermeira contorna-me e continua para uma outra porta onde se lia: cuidados intensivos. Ufa, afinal este não é para mim. (parece treta, mas foi mesmo verdade)
Volto a sentar-me. Estou farto, cansado e com fome. Onde é que já vi este filme? Parece que os meus partos têm que ser sempre com estes ingredientes. 14:15. Finalmente deixam-me entrar e vejo a Mafalda deitada na cama, mas desta vez sem o miúdo. Ok, deve ser normal. Saiu agora do bloco operatório. As minhas atenções focam-se nela tentando perceber como é que tudo correu: 3 picadelas nas costas e sem conseguirem dar epidural; segundo ela no meio disto desfez-se; quando finalmente deram a epidural então foi a vez da pulsação e tensão arterial caíram a pique e entrou em cena um episódio tipo Serviço de Emergência a bombarem todo o tipo de injectáveis que a fizessem arrebitar; depois disso já não me conseguir explicar muito bem o que se passou sem perceber muito bem o que é que tanto mexeram!? Bem, a mãe está de rastos.
Interrompe-me uma enfermeira que me entrega, agora sim, o meu Miguelito enrolado em cobertores. Era mais pano do que criança. Quase que nem o via. E logo que reparo nele, começo a nota-lo muito roxo. Sim os bebés nascem roxos, mas passado 1 hora é suposto estarem com uma cor normal.
- Eu: “Olhe lá é suposto ele estar roxo?”
- Enfermeira: “Deixe ver?! Sim é normal. Deve ter ainda alguns líquidos nos pulmões! Deve precisar de mais um pouco de oxigénio. ”
Arrancou-mo dos braços e levou-o para a incubadora. Mas o que é que se passou aqui? Não estou a perceber nada. As minhas atenções voltam-se para a Mafalda e já nem sei em que é que me focar.
- Outra enfermeira: “A mãe agora vai para o recobro com a criança e depois o pai pode voltar cerca das 16:30 quando a mãe for para o quarto.”
- Eu: “Sim, mas onde é que está a criança?”
- Enfermeira: “Mas não a vieram trazer?”
- Eu: “Trouxeram-na e levaram-na!”
- Enfermeira: “Vou ver e já venho”
- Depois de voltar: “O bebé tem ainda alguns líquidos nos pulmões e precisa de estar mais um pouco com oxigénio antes de ir para o recobro com a mãe.”
Bem, está tudo normal, está tudo normal. Siga. Despeço-me da Mafalda e vou para casa buscar a mala com as tralhas para lhe levar às 16:30 ao quarto. Mas não levava comigo a sensação de história acabada. Mal tinha pegado no Miguel. Mal trocámos olhares. Ainda não me tinha apresentado a ele. Faltava aquele momento mágico de união e cumplicidade em que o envolvemos nos nossos braços e ficamos ligados para sempre. O que é se estaria a passar? Nada!? Está tudo bem? Sim deve estar. Mas eu não me sinto bem. Alguém me está a dizer que isto não está bem. Mas quero que ele esteja bem. Falta-me algo.
Das 16:30 ainda esperei até às 17:30 para que instalassem a Mafalda no quarto e quando lá cheguei para meu grande espanto o miúdo ainda não estava com ela. Agora começava a aproximar-me de estar verdadeiramente FULO. Mas afinal onde está o Miguel? Resposta: Cuidados intermédios de neonatologia. Bham?!!! Esta palavra não me soa bem na cabeça. Desato à procura desse tal sítio. A minha cara já devida estar a dizer tudo. Assim que o primeiro segurança me vê à distância diz-me: “Quer saber do seu filho, não é?” ao que respondi com um violento: “QUERO”. Gritei-lhe para onde queria ir e ele levou-me à porta, explicando-me pelo caminho que eu estava à vontade para poder visitar o meu filho quando e sempre que quisesse, 24 horas por dia. Não sei, mas todo aquele discurso estava-me a deixar ainda mais preocupado. Nunca tive a oferta de poder visitar os meus outros MMs 24 horas por dia após o parto. O que é que se passa?
Cheguei. Passei a porta automática e entro num hall de desinfestação. Passo a 2ª porta automática e parece que entro numa nave espacial. Monitores por todo o lado e várias salas pequenas com paredes de vidro com 4 incubadoras cada e uma enfermeira. Finalmente estão-me agora a conduzir ao Miguel. Entro na sala e o Miguel é o único bebé que ali está com uma enfermeira dedicada. Já estou em pânico e ao mesmo tempo sereno.
- Eu: “O meu filho?”
- Enfermeira: “Boa tarde”
Simpática, sorriso meigo, oculinhos e uma voz tranquila como quem sabe o tom adequado a aplicar para moldar quem tem pela frente. E, repete:
- Enfermeira: “Boa tarde.”
- Eu: “boa tarde” (o meu boa tarde já foi muito pequenino…)
- Enfermeira: “Está aqui o seu filho”
É lindo, é o meu pequenote e parece estar bem, apesar de todos os fios e tubos que lhe espetam as entranhas.
- Eu: “O que é que ele tem?”
- Enfermeira: “Ele agora está bem. Ele tem ar no pulmão e precisa de estar aqui a receber oxigénio para recuperar!”
- Eu: “Ar no pulmão? Mas não é suposto um pulmão ter ar?”
- Enfermeira: “Não é isso. Ele tem ar numa membrana que há entre a pele e o pulmão.”
- Eu: “Na pleura?”
- Enfermeira: “Sim, mas o senhor está um bocado nervoso. Quer falar com o médico?”
- Eu: “Eu só quero saber o que é que ele tem!”
Aparece o médico e começa a explicar que o que aconteceu ao Miguel acontece nalguns bebés no processo de libertação do líquido dos pulmões e entrada de ar. Nessa fase, alguns bebés podem fazer um maior esforço e acabam por rebentar alguns alvéolos pulmonares, que depois fazem com que algum ar fique entre o pulmão e a pleura. Esse ar depois pressiona o pulmão impedindo a respiração normal. Foi o que aconteceu no pulmão direito do nosso Miguelito, que foi detectado numa radiografia, depois de alguns exames que tentavam despistar a razão da necessidade de oxigénio do Miguel.
A descrição foi brutal, enquanto ia interpelando o médico com várias questões: “A pleura?” “Uma radiografia ou ecografia?” “Mas isso apanha partes moles?” “E como é que sara?” Até que quando achei que estava suficientemente esclarecido e que o Miguel ficaria bem calei-me. Calei-me e fiquei a ouvir o resto. Tranquilizei-me, virei a cara para o Miguel, contemplando-o e tentando perceber como é que ele se sentia enquanto o médico continuava a repetir as mesmas palavras muito amistosamente tentando-me acalmar. Os seus olhos muito abertos, sobre uma bochecha bem redonda e olhando de esguelha para cima como quem quer fitar tudo sem perder qualquer episódio. Era o meu Miguel à minha frente e agora chamando por mim para finalmente podermos comunicar um com o outro. Agora sim, tinha chegado o momento que tanto ansiei e os meus olhos ficaram pesados.
Vantagem e desvantagem de um bom hospital público é que nem nos apercebemos do que aconteceu. O Miguel passou de um lado para o outro e daí para os cuidados intermédios de neonatologia. Nós só soubemos quando tudo estava melhor. Num outro hospital privado, passaria dali para uma ambulância, para ir para a MAC e descobrirem o que se passava.
Agora tinha que me recompor e ir então transmitir à Mafalda que tudo estava espectacular. E depois disso já eram 18:30 e começava-me dar então aquela sensação de escape. Como quando nos matamos a estudar para um exame e quando finalmente superamos a prova temos uma enorme sensação de alívio que nos invade o copo e que simultaneamente nos relaxa os músculos deixando-nos sem conseguir fazer nada. Agora estava eu assim sentado numa cadeira em frente à Mafalda a ouvir o outro lado da história, que ela vos poderá contar.
18:45, tenho que sair e ir a correr até a casa buscar os outros 2 MMs para virem ver a mãe e conhecer o mano. Aqui os filhos só podem visitar das 19:30 às 20:30.Por sua vez os cuidados intermédios de neonatologia, só são permitidos a visitas de familiares das 16:00 às 17:00, mas por especial favor a enfermeira ia permitir que as manas vissem o irmão por 1 minuto. Estavam ansiosas e eu com a cabeça em água de ouvir tantos porquês. Desde que tinha saído de casa com elas que não paravam: “Mas porque é que o mano não está com a mãe? Mas porque é que não respira? E porque é que a mãe não pode estar ao pé dele? E porque é que nós só podemos estar lá das 7.30 às 8:30? E porque é que depois disso o segurança não nos deixa entrar? E porque é que a mãe tem que descansar? E porque é que a mãe tem soro? E porque é que ela não se pode levantar? E porque é que tu estás cansado?” A dada altura já nem conseguia ouvir e só respondia, sim e não. Mesmo que não fizesse sentido.
20:00 Estamos os 3 (e falta a Mafalda) em frente ao Miguel. Elas continuam a bombardear com perguntas e alguns pequenos períodos de contemplação. Eu já não ouço e nem respondo nada. Estou cheio de pena do Miguel. Muita pena mesmo. Estou por trás delas a pentear os cabelos da Madalena com os meus dedos (que ela adora) e deixa-a alguns segundos calada, tranquilizando-a a ela e a mim. A sala está escura e o Miguel tem uma luz forte em cima dele. Acorda e olha para nós. As suas feições são evidenciadas por reflexos da luz em contraste com as sombras de alguns panos que envolvem a incubadora. Como nós queríamos pegar-te e ter-te nos nossos colos. Mas estamos aqui os 4 (e a Maf lá dentro). Agora somos 5. Somos os 5MS e nunca nos iremos separar. Ao meu Miguel. Que fiques bom e nós estamos aqui à tua espera.
São duas da manhã, vou-me deitar.