O objectivo para a estadia na Gold Coast era: surfar e relaxar. Ao contrário de Sydney e Cairns, que transbordam em atracções turísticas, a ideia era viver mais o dia a dia e desfrutar da vasta costa de de areias finas e águas verdes cristalinas, apetrechadas de boas ondas. Na verdade e como se imaginava, há muito mais do que praia. Além de uma região de montanha – 40 Kms para o interior – que acompanha toda a costa, também há uma série de parques temáticos ala Miami dos EUA. Aliá, nota-se por aqui uma grande vontade de conotação com o “american way of life”, desde os nomes de algumas praias, e.g. Miami, Palms Beach, aos parques de diversões ala Disney World. Até o sotaque dos nativos se aproxima mais do que ouvimos no calão americano e pouco se esforçam para se fazer entender, quando lhes pedimos para repetir.
Ao fim de três dias de ondas e relax, começou-me a despertar a ideia de me aventurar às atracções da região. Mas parques temáticos soa-me um pouco a desperdício numa viagem à Austrália. Montanha e parques nacionais já tinha tido com fartura em Sydney e Cairns. Além de que não me estava a apetecer fazer viagens de carro de 80 Kms que demoram 2 horas. As regras são interessantes, mas os limites de velocidade um pouco desesperantes. Por fim, a atracção que me pareceu mais razoável seria a viagem de barco para avistar baleias. Sem dúvida que foi das melhores experiências que trago na memória foi estar lado, a lado com a baleia Jubarte em Abrolhos (Brasil) e Cinzenta em Cape Cod (EUA).
Havia dois horários de visitas às baleias: 9:00 e 14:00. O segundo seria, sem dúvida pior, dado os fortes ventos que começam a soprar a partir das 10 am e que deixam o mar bastante encrespado. O primeiro iria colidir com a melhor altura de ondas, fazendo-me perder o último dia de surf na Gold Coast. Dado o conflito de interesses, voltei ao plano inicial e optei nessa tarde por completar o levantamento da Gold Coast e assim reunir a restante e total informação da região, embora soubesse que aquilo que faltava para ver não era o mais interessante.
Em suma, faltava-me conhecer metade da costa, que fica para norte de Miami beach. A Gold Coast são cerca de 50 Kms em forma de baía. A sul estão as melhores ondas, mais protegidas do vento de sul (equivalente à predominante nortada de Portugal), D-Bragh, Snapper, Collangata, Kirra, Blinga, Currumbin, Palms, Burleighs. O lado norte leva em cheio com o vento de sul, que sopra em on-shore e piora a qualidade das ondas. Aí situa-se Murmeigh, Broad, Surfers Paradise e The Spit. Por isso esta incursão ao lado norte seria apenas pelas vistas turísticas e não pela qualidade das ondas.
Surfers Paradise, pode ser considerada a capital da Gold Coast e muitas vezes confundida com a Gold Coast em si. Uma incorrecta e injusta analogia, porque aqui dominam única e exclusivamente os arranha-céus ao longo de toda a Esplanade (é assim que chamam à marginal que acompanha a praia principal). Os forasteiros dos outros cantos da Austrália dominam as ruas, vindo para aqui em busca de animação. Um ambiente comparável áquele que os ingleses “pé-descalso” recriam no nosso Algarve. Mas estes forasteiros conseguem ser ainda mais abestalhados que os ingleses, o que para um folano alto como eu, dá-me a sensação de um duende que pode ser esmagado com uma simples pisadela. Todo este ambiente é ainda mais acentuado por se ir disputar às 17:30 o jogo para o 3º lugar da taça do mundo de Rugby, entre a Austrália e Gales, o que faz os aficcionados sairem à rua ecoando cânticos de apoio à sua selecção como que Vikings envergando as suas armaduras para uma dura batalha.
Concluído o reconhecimento de terreno de Surfers Paradise, que nada tem de paraíso, segui até à ponta norte da Gold Coast, fim da South Stradbroak Island onde fica The Spit. Um zona inóspita de praias desertas e alvo dos fortes ventos de sul, tornando o mar num cenário tempestuoso. Ainda assim, em The Spit junto ao longo pontão de pilares em ferro (estilo americano) estavam alguns surfistas a apanhar não sei bem o quê, porque mais se parecia a uma máquina de lavar roupa.
Sábado, último dia na Gold Coast acordo às 5.30 da manhã e saio sem pestanejar em direcção a Palms Beach – a minha praia de eleição para estes dias. O mar está mais pequeno, com sets de metro no máximo, mas ainda mais perfeito e translucido que nos dias anteriores. Um exagero de tanta perfeição. Já sinto os cantos da casa, nado, posiciono-me e desbravo as ondas sem exitações.
De tarde a ondulação continuou a cair e já não tive pachorra para a surfada da parte da tarde, sempre com mar mais “avacalhado” e que só dá para brincar. Por isso fui explorar o parque nacional de Burleigh Heads que fica mesmo em cima da praia e que oferece algumas vistas sobre as falésias e escarpas em seu redor.
Já ao fim da tarde mais um acontecimento inédito deixou-me boqueaberto. Enquandto repousava num banco do jardim virado para Snapper Rocks a ver a malta apanhar uns espumaços, chama-me a atenção uma nuvem de vapor de água que se eleva por de trás dos surfistas. Estava longe e à primeira vista não descerni muito bem se era mesmo uma nuvem ou os respinchos de uma onda. Concentrei o meu olhar naquele ponto do horizonte e à segunda aparição vejo uma barabatana a acenar. Saltei num ápice e aproximei-me da areia questionando uns Aussies se o que estava a ver era realmente uma baleia. Eles riram-se pela minha estupefacção e não deram muita importância ao bicho, que pelos vistos deve ser tão comum naquelas praias com um gato ou cão vadio nas nossas ruas. Desatei a correr ao longo da baía de Rainbow Bay em direcção ao cabo da ponta norte (onde termina a Gold Coast), o mais próximo possível de onde estariam a passar as baleias.
Esse local oferece uma boa panorâmica do mar e é muito procurado para a melhor foto. Tentei apanhar o melhor ângulo, embora a minha reles máquina fotográfica não desse grande margem de manobra. No meio da minha excitação começo a ouvir um gajo a gritar e quando reparei estava dirigir-se a mim reclamando: “GET OUT OF THERE! GET OUT OF THERE!”. Encolhi os obros como que não percebendo o que é que ele queria e o folano aponta para o casal de noivos que estava ao meu lado a tirar umas fotos naquele local. Com o meu entusiasmo nem me tinha apercebido que me tinha colocado no meio do cenário dos noivos. Ops.