Volto à estrada. Desta vez calhou-me um carro maior de 3 volumes – um compacto – com velocidades automáticas. Está-se bem. Assim que começo a explorar a Gold Coast fico estupefacto com a primeira imagem da praia – Blinga. Impressionante. Um imenso areal de areia branca, fina, em dunas suaves, lisas, limpas e sem pegadas, como que se alguma máquina de alisamento ali as tivesse espalmado. No fundo um mar azul translucido com uma ondulação muito certa a despoltar ao longo de todo a praia. Niguém na água, niguém na areia e um enorme manto verde de relva ao longo de toda à praia serve de porta de entrada. São Kms infindáveis. Fabuloso.
Daqui dirijo-me para sul em direcção a Kirra, Collangata, Snapper Rocks, D-Brah. Começam-se a ver alguns surfistas, mas poucos ainda e os jardins cada vez mais verdes e densos dominam as envolventes das praias. Espectacular.
Kirra sem ondas. Collangata com algumas ondas, mas sem ninguém dentro. Snapper Rocks à pinha de gente. Uma enorme onda de direita varre toda a baía de Rainbow bay. Apesar do crowd há imensas ondas e os surfistas vão-se dispersando ao longo da baía. Toda a gente parece estar a apanhar ondas sem problemas. A baía é muito bonita e novamente um relvado de entrada e um areal que transmitem uma sensação de limpeza.
Apesar de me faltar ainda muita costa para desbravar e de as condições não estarem nada de espectaculares, decidi que seria melhor entrar de imediato em Snapper Rocks. Seguindo a minha velha máxima de não hesitar e entrar no primeiro sítio que inspire as mínimas condições a uma boa surfada. O mar estava perfeito, com sets de 1,5 m pouco agressivo e estavam reunidos os ingredientes para a primeira ambientação à Gold Coast.
A água era de uma translucidez indescritivel. Comparável e talvez melhor que a água da barreira de coral. Era realmente fabulosa e os reflexos em tom esverdeados pela luz do sol rematavam todo este cenário. Foi uma sessão razoável, sem grandes ondas, mas que valeu bastante por todo o ambiente.
Concentrando-se aqui as melhores ondas da região de Queensland, o plano seria arranjar um sítio qualquer para dormir e andar a desbravar à desgarrada. Daqui segui para norte - Burleighs Heads - outro lugar clássico onde se realizam muitas provas de surf e que fica junto a um parque nacional. A praia esconde-se por trás de uma reentrancia de um monte verde - parque de Burleighs - dando depois lugar a uma terreola muito pitoresca. Um daqueles sítios com que se simpatiza à primeira vista e que achei que seria um bom local para prenoitar.
Como os hóteis são caros e os móteis abundam (ala Estados Unidos, mas só nesta região) decidi optar por este último. O problema é que com vinte anos ou menos, o nosso espírito é aberto e como menos requisitos ao alojamento. Com trinta a caminho dos quarenta, aquilo que tinha muita piada quando andava à deriva pelos USA agora já não tem qualquer graça.
Depois de ter recusado 3 móteis que nada me agradaram, já farto, acabei por ficar no “Surf N Sand” (em todos pedi sempre para ver o quarto). De todos, este era o que tinha o aspecto mais limpo, mas tal como os outros dominam as paredes em tons escuros, pouca iluminação, janelas com péssima insonorização, uma porta que nem vale a pena fechar no trinco, porque mais se assemelha a uma folha de cartão e os carros ouvem-se como se tivessem a passar dentro do quarto. Ainda mal estava instalado e já estava a pensar que amanhã teria que perder o amor ao dinheiro e mudar-me de sítio.
Saí para jantar a pensar que quando chegasse podiam-me ter assaltado o quarto, tal era a falta de robustez da porta e janelas. Mas nada aconteceu. No meio deste stress nem me tinha apercebido que o Motel estava muito próximo da praia de Palms Beach, ficando à distância de uma caminhada de 5 minutos. Além disso como o meu quarto ficava no 2º piso, da varanda conseguia ver o mar o que me proporcionou mais um cenário fascinante às 6.30 da manhã quando me levantei e fui espreitar à janela. A luz do dia ainda em lusco fusco e o mar com picos perfeitos de metro e meio glass a rebentar por toda a praia de Palms Beach.
Foi uma das melhores sessões de sempre com algumas ondas a darem bons tubos. Tudo seria perfeito se não fosse o enorme susto que apanhei ao ver passar mesmo à frente do meu nariz uma barbatana de golfinho/tubarão (não sei, mas prefiro acreditar que era mesmo golfinho). Fiquei tão embasbacado, que quase não tinha reacção e nem conseguia já articular o meu inglês. Pus de imediato os braços e pernas para fora de água e tentava perguntar sobressaltado se costumava haver por ali muitos golfinhos. Responderam-me que sim: “Golfinhos, baleias, ...”. Sim também já tinha lido sobre as baleias que durante o mês de Outubro passam ali em direcção à Antártida. “E tubarões?”. “É raro, mas também há. Como é que era a barbatana? Passou assim ou fez assim?” Acompanhado de um gesto que explicava as duas formas como a barbatana podia passar, caso fosse um golfinho ou um tubarão. Sei lá, era uma barbatana e não muito pequena. Quando olhei já estava de fora e depois só a vi desaparecer. “Ok, deve ser um golfinho”. Deve ser? DEVE SER?! Que stress. A partir daí já nem conseguia remar direito e como a rebentação estava forte já não consegui mais ultrapassá-la e chegar ao pico. Acabei por sair de água e foi um enorme alívio quando me senti em terra.
O resto do dia andei a vaguear numa completa onda de relax a explorar as praias em redor de Burleigh Heads, Colangata, etc. Mais tarde chegou a altura de começar a explorar o sítio onde prenoitar para as próximas 3 noites. Depois de 3 tentativas falhadas que ultrapassavam em muito o meu orçamento, acabei por encontrar a bom preço um T1 num bloco de apartamentos mesmo virado para Miami Beach e a 2 Kms da próxima cidade a norte de Burleighs – Broadbeach.
Segundo a gerente do Hotel ali também davam grandes ondas e até melhores que em Palms Beach. Nesta região da Gold Coast todos opinam sobre surf conhecendo claramente todos os picos e prespectivando as melhores condições. Seja homem, ou mulher, novo ou velho. Em qualquer estação de rádio dão atenção à modalidade, anunciando o “forecast” e as ondas com melhor qualidade. Até no telejornal aquele senhor de aspecto mais formal que apresenta o boletim metereológico dedica uma grande fatia de tempo à previsão do estado do mar para o surf. Assim passamos todo o dia a ver, ou ouvir surf, tal como em Portugal passamos a semana toda a antever os jogos de futebol.
Este hotel é bem mais sossegado já não se ouvindo barulho dos carros, mas a passarada selvagem começou num frenesim diabólico a partir das 5 am assim que despoltaram os primeiros raios de sol. Seguiu-se a caminhada matinal até à praia para inspeccionar as ondas, mas o aspecto não era nada convidativo com as ondas a rebentar de forma desordenada.
Arrumei a trocha na mala do carro e segui até Palms Beach. Tal como no dia anterior o mar estava com sets de 1,5 m, vento off-shore, água em tons de verde translucido, picos perfeitos a rebentar ao longo de toda a costa e pouco crowd. Em suma, estavam reunidos todos os acessórios de um “mar à Miguel”. Tal era a beleza daquelas ondas que rapidamente varreram-se-me os pensamentos dos tubarões que desde o dia anterior não mais me largaram. Falta acrescentar que a temperatura da água tem estado espectacular a rondar os 24 ºC.
O ambiente é formidável, de grande tranquilidade e respeito pelas ondas uns dos outros. A quantidade e qualidade é tanta que ninguém acaba por stressar. Entrei ainda não eram 7 am e hoje mais cedo que o habitual, por volta das 9:30, o vento rodou de on-shore e as ondas ficaram piores. Parece que também aqui à semelhança de Portugal a melhor altura de ondas e com menos vento é sempre de manhã. Depois disso começa a soprar o vento de leste mais forte, que piora as condições.