Austrália - Cairns, Port Douglas, GBR, Kooranda

October 20, 2011

7 noites, 6º dia. Sinto que já estou aqui há 1 mês. Aqui estou eu de novo em mais um voo. Agora para a Gold Coast, depois Melbourne e finalmente regresso a Lisboa. Cada um das estadias tem sido e continuará a ter características distintas e próprias. Depois de 4 dias frenéticos em Sydney, seguiram-se 3 dias mais calmos em Cairns dominados pela expedição à barreira de coral e outra à Rainforest – principais atracções turísticas da região.

Aqui foi tudo mais calmo e menos acelerado, com um pouco mais de tempo para dormir e sem carro para conduzir. Para todo o lado segui a pé ou guiado por uma tour, o que torna tudo mais arteficial e menos interessante. Novamente em Cairns encontramos um cenário montado semelhante àquele que me deparei em Katoomba. Mas aqui o número de atracções e variedade é muito mais vasto.

Com mais tempo e outros recursos o recomendável é alugar um carro e explorar livremente a região. Mas depois da azafama de Sydney e porque essa opção fica muito mais dispendiosa, optei por intercalar e desta vez andar sem carro alugado.

A grande barreira de coral – GBR – é um “must go” da Austrália. Desde o primeiro dia que soube que teria que viajar até à Austrália que determinei este destíno como passagem obrigatória. Não posso dizer que tenha sido uma desilusão, porque à medida que me fui apercebendo do aparato montado em seu torno fui baixando as minhas expectativas. Seguindo alguns concelhos de quem já conhecia a região acabei por fugir da confusão de Cairns e ir mergulhar a partir de Port Douglas – 80 Kms para norte. Esta zona está menos desenvolvida e menos atacada pelas incursões turísticas, pelo que supostamente reservaria os corais em melhores condições. Tem o se não da viagem mais longa e de os preços serem mais caros. Mas o meu pensamento foi que entre 150 ou 200 dolares, mais valia pagar  mais e garantir o melhor (incrível perceber que é mais cara uma viagem à GBR do que uma viagem de avião na Austrália que varia entre os 60 e 120 dólares).

De todos os sítios paradísiacos para Mergulho a GBR ficará certamente em último. Em primeiro lugar “execo” Punta Cana, Maldivas – South Atol e Tailândia - Phi Phi Island. Não consigo dizer qual destes três o melhor porque cada um deles destacou-se de forma diferente. Punta Cana o coral, Maldivas a diversidade da fauna e Tailândia pelos tubarões leopardo de 3 metros.

No meio de tudo isto a GBR é só mais um sítio sem nenhum aspecto forte. Mergulhámos em três spots. No primeiro mais de metade do fundo de Coral estava morto. Ainda assim foi o sítio onde consegui ver os peixes mais interessantes, dos quais um pequeno tubarão de reef com cerca de 1 metro. Por mais inofensivos que sejam estes animais deixam-nos sempre apreensivos. Sobretudo quando resolvem mudar de rumo e apontar na nossa direcção para nos vir inspeccionar. Foi sem dúvida o momento de maior adrenalina desta estadia em Cairns.

O 2º spot era o o que tinha o melhor coral e água mais translúcida dando-nos a sensação de estar num enorme aquário pintado de flurescente. O 3º spot era apontado como o ponto alto da expedição, onde supostamente vislumbraríamos os famosos peixe palhaço e alguns tubarões, mas acabei por não ver nada disso. De facto a expectativa defraudada e a inesperável supresa é uma experiência repetida em quase todos os mergulhos onde o melhor só aparece quando não está planeado.

Apesar do dia estar quente a água rondava os 20ºC o que para um mergulho de alguns minutos sem fato de neopren se torna desconfortável. Embora classificado como tropical o clima está aquem daquilo que considero mercer essa designação. Pois nem se sente a humidade, nem o bafo sufocante e a água está muito longe de uma sensação de banho de imersão. Diria que nesta altura do ano – pré Verão – faz mais lembrar o clima do nosso Algarve. O mais estranho é que sendo Sydney o equivalente a Lisboa, para chegar ao suposto Algarve Australiano tive que fazer 3 horas de avião – 3.000 Kms para norte.

No terceiro dia fui numa viagem de comboio até Kuranda que atravessa os montes da Rainforest. A paisagem é incrivelmente bonita, passando sobre precipícios forrados de uma densa floresta verde e ramificada por braços de cascatas que correm sobre a montanha. A temperatura arrefece um pouco à medida que subimos e fez-me lembrar a subida a Kilda atravessando os campos de chá do Sri Lanka.

Chegando a Kuranda sentimo-nos novamente na Disney, desta vez com as visitas aos kangurus, crocodilos, Koalas, etc. São novamente paragens obrigatórias, mas dispensei a famosa foto com o Koala ao colo. Nessa altura começou a cair uma enorme carga de água que me deixou preso cerca de 30 minutos na companhia dos Koalas, que se iam revesando entre si na foto com o turista. Volta e meia lá regressava um ao ramo para dormir mais uma sesta e levavam outro para mais uma sessão de fotos.

Aqui também temos a oportunidade de ver de perto os Kangurus. Eles andam soltos numa zona sem gradeamento vindo junto dos turistas que lhes podem dar comida própria fornecida no recinto. De facto é mais inteligente do que no Zoo de Lisboa onde dizem: “Não dê comida às girafas” e depois vê-se toda a gente a pegar em folhas de árvore e dá-las às girafas. Aqui ao contrário colocam uma placa elucidativa de como dar comida aos Kangurus e fornecem de borla a comida adequada para que não hajam incidentes.

Ao contrário destas também existem as regras que proíbem e vive-se um pouco o síndrome americano das regras. Ou melhor, mais do que haver regras, as regras não podem ser questionadas. E sempre que eu as questiono, respondem-me  com um olhar de estupefacção não acreditando porque razão estou eu a questionar uma regra. Para eles as regras, são regras e não há que interrogá-las.

Foi assim uma série de vezes, incluindo quando entrei na carruagem de comboio que estava vazia e escolhi um lugar ao calhas. Por azar calhei logo no lugar do unica casal que também ocupava aquela carruagem que me alertaram logo: “Hey Mr, that’s not your seat!” Claro que não é e depois? Isto está vazio, sentem-se noutro lugar qualquer? Mas não, o bilhete indicava aquele lugar e os Sres queriam ficar ali mesmo. Não querendo mais confusão levantei-me e sentei-me duas filas à frente. Quando veio o revisor, outra vez a mesma conversa, ao que respondi que o comboio estava vazio e portanto qual o problema de ir noutro lugar que não o meu? “Este comboio vai parar noutra estação e vão entrar mais pessoas!”. Carambas, estã 100 lugares livres na carruagem, vão entrar 100 pessoas? O revisor começou a ficar nervoso com as minhas contra-respostas e contrariado lá me deixou ficar naquele lugar. Claro, que na estação seguinte entraram só mais 5 pessoas naquela carruagem e nenhuma para o lugar onde eu estava sentado.

Num outro episódio na GBR após cada mergulho procediam à contagem de todos os turistas, para garantir que ninguém ficava esquecido no mar. Durante a contagem pediam às pessoas que se mantivessem paradas num determinado sítio e colocavam uns vigilantes às portas impedindo que os turistas mudassem de sala.

Numa dessas vezes estou eu na varanda do barco (beco sem saida de onde só poderia sair por uma única porta) e resolvo ir à sala interior buscar a máquina fotográfica. Nesse trajecto coloca-se um vigilante à porta que me bloqueia a passagem novamente para a varanda.

- “Mas a contagem ainda não começou.”

- “Sim, já começou.”

- “Não está aqui niguém a contar.”

- “Já estão a contar.”

- “Mas se ainda não está a ninguém a contar, qual a diferença de eu ficar aqui ou na varanda?”

- “Após o início da contagem já não pode mudar de sítio.”

- “Mas não está aqui ninguém a contar!”

- “Já não pode passar.”

- “Ok, então vou descer as escadas e vou lá para baixo, porque não está ali ninguém a bloquear as escadas.”

- “Mas, mas... não pode.”

- “Quem é que me impede?”

- “Eu.”

- “Como? E vai deixar a porta sem niguém a vigiar? Adeus, vou descer.”

E nisto apareceram os “contadores” – os homens que fazem a contagem – e eu fiquei imóvel e já não desci até que terminassem. No final o folano da porta da varanda ainda deitou-me um olhar incrédulo.

As regras encontram-se por todo o lado, desde os carros que quando estacionados em “espinha”devem ficar todos virados com a frente para o mesmo lado; desde todos os cruzamentos sem falta terem um stop, ou perca de prioridade para alguém – não existe regra da direita, se não temos um sinal explícito em contrário então a prioridade é nossa; nas rotundas todos fazem pisca: pisca para esquerda, sem pisca se for em frente e pisca para a direita. E se voltar para trás? (não sei);

Claro que concordo com estas regras e que no geral fazem com que toda a comunidade possa funcionar melhor. Mas dá-me algum gozo questioná-las e deixar os seus mandatários nervosos quando nem eles conseguem por vezes justificar toda a sua magnitude. O cérebro deles está tão formatado para o seu cumprimento que nunca lhes passou pela cabeça interrogar se está tudo certo.