Ficaram ainda algumas coisas por ver, mas seria dificil fazer melhor em tao pouco tempo. Tudo se pode resumir a: um dia de montanha; um dia de cidade com copos ao fim da tarde nos cafés da ópera e jantar num dos melhores restaurantes de Noodles frescos caseiros de Sydney; um dia de praia com passagem na mítica Shark Island e assistir à semi-final do campeonato do mundo de Rugby num ambiente completamente frenético.
Sydney é uma cidade fantástica, uma das mais bonitas e mediáticas do mundo a par com Barcelona, Rio de Janeiro, New York e, claro, Lisboa. Tem um enquadramento paisagístico belíssimo, rodeado de baías e comparada em muitos guias ao Rio Janeiro (mas não tem os montes, nem as vistas naturais e por isso fica atrás). Tem uma vida brutal, fazendo lembrar as Ramblas em Barcelona. Alguns arranha-céus contrastam com a arquitectura mais pitoresca, criando cenários heterogéneos de que tanto gosto e com que também nos deparamos em Lisboa. Mas faltam-lhe as 7 colinas, os bairros, os miradouros, o castelo, o Chiado, a Baixa, Belém, etc. Claro que Lisboa só perde na “vida” e animação, mas desiludam-se os mais cépticos porque Lisboa de ano, para ano, cresce quase que exponencialmente na agitação de rua.
Deambular por aqui é uma experiência enriquecedora que podia ser estendida sem qualquer esforço a uma estadia mais prolongada. Dormi estes dias em Bondi Beach (na cas do Ricardo), equivalente à zona da linha de Cascais de Lisboa, mas muito mais perto do centro (10 Kms do centro mesmo e não a 10 Kms de Monsanto como medem os “meninos”) e sem os problemas de transito e transportes públicos que temos no nosso país. De facto, como em muitas cidades evoluidas, sentimos que aqui tudo funciona. Sente-se a qualidade de vida.
Mas como não existem almoços grátis, os preços são completamente exurbitantes fazendo lembrar Zurique. Somos completamente atrocidados. O dinheiro voa da carteira sem nos apercebermos e tudo é multiplo de 5 dólares. Qualquer que seja o sítio: café ou supermercado.
Em Bondi Beach não há prédios de apartamentos e todos vivem em Moradias. E apesar de estar numa zona urbana e à semelhança de Sydney, estamos constantemente a ouvir guinchos e o chilrear dos mais variados passáros como se tivéssemos numa selva. Mesmo no jardim botânico de Sydney chegam-se ver centenas de grandes morcegos ao pendurão das árvores e cheguei a cruzar-me com uma brutal aranha de aspecto muito pouco fiável.
Aliás para rematar este cenário selvagem no útlimo dia de regresso a casa recemos uma chamada de alerta de uma das “flat mates” do Ricardo que se tinha cruzado com uma Redback, pedindo-lhe se ele podia comprar algum insecticida específico. Eu estava a conduzir enquando o Ricardo interrogava assustado e freneticamente a sua amiga. Não percebi do que se tratava mas pelo tom de preocupação percebi que era algo grave. Depois de desligar a chamada explicou-me: “Uma aranha pequena com uma pinta vermelha nas costas e que percebe-se claramente que não é de confiança.” Franzi a testa sem ter a certeza se devia ficar muito, ou pouco preocupado, enquanto o Ricardo procura na Internet informação sobre a aranha. Mostra-me então a fotografia e comprovo que o seu aspecto é intragável. Faz mesmo lembrar uma daquelas aranhas estranhíssimas que cria o homem-aranha. Depois completou a descrição: “A picada provoca uma dor alucinante e o seu veneno faz apodrecer a carne em volta no espaço de uma hora. Pode-se perder uma mão.”F#&A#%E, F#&A#%E, F#&A#%E. Só a mim!!! Logo eu que adoro este tipo de bicharada. Já imaginava um episódio de horas com todos os “flat mates” da casa a revira-la do avesso em busca de algo que nos podia saltar em cima e atacar a qualquer momento.
Quando chegámos a aranha estava bem localizada debaixo de um cesto de verga da cozinha onde deambulavam também os seus filhotes. Deixei-me ficar para tráz e o Ricardo chamou-me para que fosse ver aquela preciosidade. “He pá deixa lá isso, prefiro vê-la depois de morta!” O seu aspecto era nojento e mesmo depois de lhe terem despejado quase uma lata de insecticida em cima ela ainda esperneava.
Apesar de tanta bicharada as Blue Montains (a 60 Kms) acabaram por não evidenciar muito mais espécies além daquelas que vi em Sydeney. As Blue Montains valem mesmo pela infinidade de “trails” sobre precepícios vertiginosos e paisagens de tirar a respiração. O principal centro turístico – Katoomba – onde encontramos o maior número de “trails”, as “Three Sisters” e uma série de teleféricos acaba por aparentar um cenário demasiado artificial. Claro que é um sítio obrigatório, mas não foi o mais deslumbrante. Por isso recomendo que se forem às Blue Montains instruam-se primeiro num bom guia e optem depois.
Foi o que fiz e tive a sorte de começar esta visita por Wentworth onde encontramos o Darwin’s Walk que nos leva numa caminhada de 3 Kms à cascata mais alta com 931 metros. O meu ojectivo inicial não era fazer os 3 Kms completos, porque ainda tinha outros lugares em mente para visitar. Mas um grupos de jovens da 3ª idade ao perceberem que passeva sozinho resgataram-me e fizeram-me percorrer o caminho até ao fim. Um grupo super animado e simpátido que rondavam os 60 anos. Alguns aparentavam passar dos 70, mas a invejável forma física com que transpunham todos os obstáculos deixava-me em dúvida de qual a sua real idade. Supreendentemente no dia seguinte em Sydney cruzei-me novamente com a Madeleine, que ficou radiosa pela coincidencia de me encontrar uma 2ª vez. Foi de facto muito divertido.
O regresso das Blue Montains acompanhado de um Jat Lag brutal foi uma verdadeira tortura. Num, ou outro semáforo cheguei a fechar a pestana. A parte final do caminho foi delirante, vindo o caminho todo a cantar e dançar para não me deixar adormecer. Uma hora de viagem e com muito esforço cheguei ao centro de Sydney, depois de ter subido 14 passeios do lado esquerdo do carro e ter ligado 47 vezes os limpa pára brisas, em tentativas infrutífuras de accionar os piscas.
Guiar do lado esquerdo da estrada não deixa de ser um exercício interessante, até porque nos apercebemos da quantidade de tarefas de condução que temos automatizadas e que fazemos sem pensar. Como andar ou quase respirar. Quando nos colocam do lado contrário àquele a que estamos habituados a guiar é como se tivessemos a reaprender a conduzir. Nada nos sai naturalmente e temos que seguir os passos “by the book”, planeando acção, a acção: “Agora o pisca. Agora vou virar à direita. Agora vou apontar para aquela faixa. Deixa-me lá ver se estou a igual distancia de cada um dos lados da faixa.”
O mais fácil é conduzir do lado certo. Até porque ter o volante do lado contrário motiva-nos a conduzir do lado correcto. Só em ruas mais estreitas, com pouco transito e sem linhas no chão é que acabei por ir parar ao lado contrário. Mas ao vemos um carro direito a nós facilmente retoma-mos o lado certo. Só aconteceu 10 vezes até gora.
O pior mesmo é aquela tendenciazinha que temos para ir deixando o carro fugir para o lado esquerdo. Como não estou habituado a ter mais de 1 metro de carro daquele lado, a falta de à vontade e a proximidade de carros do lado direito, faz com que inrreflectidamente nos vamos refugiando para o lado esquerdo até que o galgar de uma berma ou uma buzina nos faz acordar.
A segunda árdua tarefa é atinar com a manete dos piscas. E, quando num momento mais tenso tentamos mudar de faixa e num instante queremos accionar o pisca e reduzir uma mudança de caixa, então solta-se a descordenação total . Liga-se o limpa pára-brisas e de seguida embatemos com a mão direita do lado da porta procurando a caixa de mudanças no sítio errado. Um concelho que ajuda a resolver estre drama: guiem apenas com a mão direita no volante e a mão esquerda na caixa de velocidades.
Por fim, o espelho do meio é completamente inútil. Temos sempre o sub-consciente de dar aquela rápida espreitadela pelo canto superior direito do ombro e contrariar isso é quase impossível. Às vezes quase me supreendo quando vejo do meu lado esquerdo esse espelho: “Olha está aqui um espelho.” E depois nem nos apercebemos bem do que vemos para tráz, dado aquele ligeiro angulo inclinado que depois nos mostra tudo do lado contrário. Pronto, este espelho é mesmo para esquecer.
Ao 3º dia já estava quase que a guiar naturalmente e com raros enganos. Por isso a viagem até Cornulla foi bastante tranquila e ainda por cima já contando com a presença do Ricardo. Cronulla é uma praia interessante e respira-se o esprírito de surf nas ruas. Aqui vive um dos picos mais clássicos de sempre do bodyboard – Shark Island – e “not allowed” a surfistas, o que dá algum gozo. Apenas em dias mais pequenos alguns surfistas se conseguem aventurar a apanhar uns tubos, ou então apenas se torna acessível a profissionais de topo.
Hoje estava um dia acessível com mar a rondar os 4 pés, mas a onda é tão pesada que multiplica aqueles pés em jardas ou milhas. O cenário dentro de água é brutal, porque vemos a onda rebentar exactamente como nos filmes. Claro, não fosse eu estar mesmo em Shark Island. Depois junta-se a adrenalina de entrar sobre rochas nada acessíveis e uma remada de cerca de 500 metros até ao pico. Os Aussies foram impecáveis e além de me receberem bem, ainda me deram umas dicas da melhor forma de apanhar aquela onda. Não é um drop nada fácil, talvez dos mais difíceis que alguma vez surfei. No final acompanhei-os e também me ajudaram a sair da água.
A boa disposíção reina e cada onda para eles é um motivo para uma aventura sem terem qualquer receio da lage que os espera em baixo. Sempre que terminavam uma onda punham-se na palhaçada a correr sobre a rocha seca em direcção ao pico. Como o mar nao estava muito grande, esta era mais uma forma de afrontarem as ondas e trazer mais alguma adrenalina. Enquanto isso os outros gritavam e gozavam à fartazana.
Não foi uma surfada épica, mas viver aquele momento num pico mítico deixa-nos com uma sensação de renascer e de objectivo cumprido. Foi a cereja no topo do bolo para rematar esta fantástica estadia em Sydney. Agora vou partir para Cairns e esperam-me outro tipo de aventuras.