Que fome, com que estou. O meu estomago não para de fazer barulhos. Será que vão demorar muito até servirem os aperitivos? Que seca. Estou aqui encalacrado a duas cadeiras de distância do corredor e não consigo chegar à minha mochila. Uma lê, a outra já dorme. Chiça são 13:00 e não comi mais nada desde as 7 da manhã quando tomei o pequeno-almoço no aeroporto. Já não consigo mais convencer-me a não comer e aguardar pelo almoço. Como é que resolvo isto?
Foi boa a ideia de não ter comido a sandes do pequeno-almoço do 1º avião e deixa-la para mais tarde. Só seria melhor se não me tivesse esquecido de a tirar da mochila antes de me sentar. Esta treta de estar entalado entre a janela e mais dois lugares está-me a tramar. E tudo isto porque não consegui fazer o check-in electronico. Meses a ansiar por não me esquecer de colocar um alarme para 24 horas antes da partida do avião, para garantir o melhor lugar. Até sonhei com a possibilidade de upgrade, para um lugar especial com um pouco mais de espaço para as pernas como aconteceu no regresso de Kuala Lumpur. Mas não, a minha sorte nao estava para aí virada e em vez disso o que me saiu na rifa foi a impossibilidade de marcar o lugar no voo Londres–Sydney por causa de ser operado por uma companhia diferente (Qantas em vez de British). Ainda tentei contornar o problema, recorrendo ao site da Qantas, mas nada. Contactei o contact center na Australia, mas nada também. Só no check-in presencial do aeroporto de Lisboa, responderam-me eles. E hoje no balcão de Lisboa às 6:00 e apesar de ser o primeiro da fila, sai-me uma atrofiada com esta: “O Sr. Já tem o check-in feito.” Mas como? A verdade é que estava. Ela vira o ecrã para mim e comprova-mo. Lá estava este meu lugar 63A. “A” de azar, ou não (já explico porquê), 63 de número de “Desafio”. “Desafio” é uma classificação minha pessoal. Não é primo, mas tinha potencial para isso. Porquê? Não sei. Sou eu que digo. Até porque é o resultado de uma conta onde via muitos dos meus colegas de primária esbarrarem-se quando lhes perguntavam a tabuada. “9*7?”. Se não me falha a memória, ou a imaginação, até jurava que é aquela conta que os tios gostam sempre de nos desafiar quando sabem que estamos a aprender a tabuada.
Para rematar esta novela só faltam dois gordos gigantes a tombarem para o meu lugar, invadindo o meu assento, a cheirar mal, constipados, com espirros constantes e a libertar gazes nauseabundos. Mas finalmente algo de menos mal: uma senhora dos seus 50 anos, muito elegante em todos os sentidos (tipica “british style”), cheirosa e bem posta, mesmo do meu lado. E, no obstáculo final mesmo a chegar ao corredor, uma miuda morena, de óculos, dos seus 20-30 anos (já nao sei distinguir dentro deste intervalo), pequena, elegante e com cara de poucos amigos para quem a incomoda a pedir passagem. Ufa. Menos mal.
A senhora do meu lado, vive em Melbourne e é extremamente simpática. Visita regularmente Espanha e adora artes. Ficou muito curiosa sobre Lisboa e perguntou-me bastantes coisas sobre a arquitectura e cultura da cidade. Temos mantido uma amena cavaqueira que ajuda a passar o tempo. Saiu daqui o pretexto para me desculpar e me deixar alcançar a minha sandes que morava na minha mochila, no alto, junto ao corredor.
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À parte da companhia, isto parece uma replica da ligação Amesterdão – Kuala Lumpur do ano passado. Desta vez tinha mais 10 minutos, mas o atraso na partida de Lisboa deixou-me mesmo em cima da hora de apanhar o 2º avião para Sydney. Quando cheguei à porta de embarque já não restava niguém e o monitor assinalava “closing”. Era meio dia e o avião partia daí a 15 minutos.
Já estou a salvo, mas parece que o meu nome é grande demais e confundem-se os nomes do meio, com o primeiro e apelidos. Fernando Miguel Santos Lopes de Carvalho. Não dá. É muito grande. Ainda por cima para um gajo que tem problemas de dupla personalidade e hora se chama Fernando, ora Miguel. Por isso o nome que dei foi Fernando Miguel Carvalho. Mas também não dá. Deveria ser o apelido Miguel Santos Lopes de Carvalho? Apesar de ter tratado do visa com bastante antecedencia, ter a confirmação de autorização e te-lo impresso como ordenavam as instruções, ainda assim parece que algo correu mal.
Enquanto isto vou apreciando o novo A380 onde ireri embarcar (será?) e que se depara de topo à minha frente. Parece mais estreito que um avião normal. Mas é apenas ilusão pelo facto de ser mais alto. A prespectiva frontal aparenta-se mais com uma bola de reigby, dando a ideia de ser um avião mais fino. Duas mangas do lado direito dão acesso a cada um dos pisos. Lá dentro acabaria por chegar à infeliz conclusão que o espaço para a classe turística é do mais apertado em que já viajei. Sacanas, sem respeito. Para quê um avião maior? Dar mais conforto aos passageiros? Ou, ganhar mais dinheiro? Não preciso responder.
Queria tirar umas fotos a esta obra tecnológica do século XXI, mas já não iria dar tempo. Por isso foi mesmo dali do balcão de embarque que tentei apanhar a prespectiva daquilo que é o novo avião de 2 andares a todo o comprimento. “2 andares? O que tem de especial? Eu já andei num avião desses.” Resposta dominante de todos aqueles a quem eu dizia que ia experimentar o novo A380. Quem ao ler isto se reveu no mesmo comentário, será melhor ir pesquisar a diferença porque também nao me apetece explica-la.
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A folana ao meu lado acaba de digerir o 2º drunfo. Sim, parece normal. Será que eu também pareço? Dois malucos num avião para Sydney.
15:00 chegou a hora de almoço e estas tipas ainda nao se lavantaram. O almoço não foi mau e acompahado, claro, pelo habitual: branco chardonaix. Comi bem e sinto-me satisfeito com a refeição.
15:40 está na hora de me levantar pela 2ª vez. As folanas facilitam-me a passagem, mas nem se levantam. Está-se a ver... apanharam um “tablet” aqui sentado ao lado e basta só chegar um pouco as pernas para o lado para eu conseguir passar. Perguntam-me elas se me importo que nao se levantem? Claro que não, desde que elas também nao se importem que lhes roce o traseiro das calças no nariz. Pelos vistos estão a gostar. Só passaram três horas de viagem e já vão dois rossanços. Quantos mais terão que ser até ao fim da viagem?
16:00 está de noite lá fora. Agora não tenho sono. Estou lixado. Só faltam 9 horas... para Singapura.
17:00 finalmente a tipa do lado do corredor resolveu levantar-se. Parece que a Astraliana também se quer levantar. Tenho que aproveitar para esticar as pernas mais uma vez antes da maior jornada.
18:30. Mais uma hora de amena cavaqueira. A Australiana prepara-se para amanhã voar para as Fidji. Vai-se casar. Sim, tem cerca de 50 ou 60 anos.
22:30 Pouco passei pelas brasas. Mas quem é que dorme profundamente a uma hora destas?
23:00 Estão a servir o pequeno-almoço e já estou todo trocado com as horas. Mas está certo, lá fora é de dia. Logo, pequeno-almoço.
00:00 Não acredito que estas tipas nao se vao levantar mais nenhuma vez. 14 horas de viagem e só se levantaram uma única vez.
01:30 Estou em Singapura. Finalmente. Que excelente sensação esta de me poder deslocar pelos meus pés. Só falta mais um voo de 8 horas para estar em Sydney.
02:30 De novo no avião, no mesmo lugar, mas em vez da Australiana agora tenho um oriental que cheira mal e que nao se para de mexer na cadeira. Agora sim, estou cheio de sono. Vou dormir.
03:30 Adormeci e acordei no ar. Excelente. Consegui um momento de paz. Apesar do cheiro.
04:00 Estão a servir uma refeição. Já não percebo se é almoço ou jantar!? Estou todo partido.
07:00 Já não consigo fingir que durmo. Vou ver mais um filme.
9:00 Porra, quero-me levantar e estes gajos estão dormir ferrados ao meu lado. Vou passar por cima.
9:30 Acabei de vir da casa de banho. Que susto. Pareço um zombie. Olheiras caídas até aos joelhos. Um derrrame num dos olhos. Além disso, sinto o nariz completamente seco por causa do ar condicionado e de cada vez que tenho que me assoar só saiem “macacos” vermelhos.
10:00 Vamo aterrar. Lá fora é de noite. Estou todo baralhado! E em Portugal? Dia ou noite?
11:00 (21:00 em Sydney) A mina mala não chegou. O que significa que estou sem a prancha de Bodyboard e sem o saco da toilette.
12:00 (22:00 em Sydney) Como sempre aquilo que nos contam nao corresponde à nossa realidade. Os maiores dramas da condução do lado esquerdo são: a cada sinal de piscas ponho o limpa para brisas a funcionar; esqueço-me que tenho mais um metro de carro do meu lado esquerdo e estou sempre a galgar as bermas.
13:00 (23:00) Cheguei a casa do RLU e é dificil gerir os temas de conversas, porque são mais que muitos e atropelam-se. Mas tivemos que terminar porque alem de eu estar para la de morto, ele tem o habito de se deitar por volta das 21:30.
14:30 (24:30) Acabei de arrumar o meu quarto. Vou-me deitar
P.S. A previsão diz que vai estar a chover aqui até Sábado. Bhaaa.