Será M de Mentawai? - 1ª parte

July 1, 2010

Alucinação. Olhando para traz tudo me parece uma perfeita alucinação. Passamos semanas meses, anos a planear o momento perfeito e no fim parece que tudo aquilo que não queríamos que acontecesse acaba por colidir. Isto num olhar pessimista, porque olhando de outra forma só me posso dar por contente por não ter apanhado com fenómenos inesperados como o vulcão da Islândia – outro dos stresses que me veio atormentar os últimos tempos.

Mas afinal porquê tanta preocupação? Porque vendi a minha casa nos últimos 2 meses, porque vou mudar-me no fim de Julho, porque a escritura de venda ficou agendada para a semana em que decorre a minha estadia na Indonésia e porque no fim tenho mais dúvidas do que certezas sobre esta viagem! Há uns anos atrás, solteiro e sem filhos esta seria a viagem perfeita. Agora soa a completa alucinação.

Deixar a família e partir para uma viagem de duas semanas a bordo de um barco ao largo da ilha Sumatra – Mentawai – só pode ser uma irresponsabilidade. Mas esta sempre foi a viagem que quis fazer. Aliás esta é a viagem que qualquer apaixonado de desportos de ondas quer fazer na vida. E eu não sou excepção. Só peca por vir tarde, muito tarde.

Assim depois de passar os 5 últimos anos a ansiar pelo momento mais oportuno que minimizasse o impacto na vida familiar, sem prejudicar a vida profissional – minha e daqueles com quem trabalho – tudo parecia indicar que este era o momento mais propício. No entanto uma conjugação de factores veio tornar esta viagem e as semanas que a antecedem num autêntico stress. E quando tudo se conjugou já não havia volta a dar. A viagem estava comprada e a única opção era seguir em frente e resolver todos os problemas que iam surgido.

Para ajudar à festa a vida profissional intensificou-se: duas disciplinas novas em reestruturação, mais uma disciplina de doutoramento para fazer, um projecto de doutoramento ambicioso (integrar uma STM na máquina virtual Mono - MonoVstm), trabalho de doutoramento e seguir o GESW do Inesc, mais um projecto em concepção - Valquíria, e muitos outros compromissos dos quais não podemos fugir quando temos a cargo algumas responsabilidades.

Gerir todas estas actividades em paralelo com um processo de venda e compra de casa nova (por esta ordem), mantendo o equilíbrio da vida familiar estável… não é pêra doce. Claro que pelo meio a tensão arterial acabou por atingir os meus limites e por duas vezes tive que parar e reestruturar as minhas prioridades.

E se houvesse opção, não hesitaria um minuto em cancelar toda esta viagem. Tenho os meus sonhos, mas tento não ser lunático e desta vez tudo teve no limite das minhas capacidades. Muitas vezes entre telefonemas do banco, emails e telefonemas da secretária do departamento, corridas até às reuniões do Gesw do Inesc, aulas de doutoramento no IST, pesquisas de casa, telefonemas de imobiliárias, preparação de aulas, esclarecimentos de dúvidas de alunos, reuniões de projectos do Centro de Cálculo, encomendas, contabilidade,…. parava, olhava em volta e não sabia qual o próximo passo a dar. Houve momentos de autentica ausência de espaço, como se nada à volta me rodeasse e eu não soubesse para que lado ir. Não faço ideia do que é ter um esgotamento nervoso, mas talvez não tenha andado muito longe de saber o que é ter um.

E tudo isto porquê? Para não comprometer nenhum dos meus projectos: familiares, profissionais e pessoais. Os projectos não estão concluídos e parece-me que até agora estou a conseguir levá-los a custo de muito esforço e nervos. Resta saber como tudo vai acabar.

O primeiro a terminar é aquele que mais incertezas me dá neste momento e que seria o primeiro que abdicaria se tivesse opção – esta viagem. Daqui a 2 semanas teremos o resultado.

Nos dias que antecederam esta partida vivi sentimentos muito semelhantes àqueles que precederam a minha jornada profissional pelo Brasil. Nessa altura tinha uma certeza e fiz uma descoberta. A certeza é que teria que ter uma experiência profissional fora de Portugal. A descoberta é que adoro o meu pais e sou um grande patriota que não consegue viver sem a família e os amigos. Enganei-me redondamente ao pensar que era uma tarefa fácil trabalhar no estrangeiro (e digamos que no Brasil muitos dos obstáculos de viver no estrangeiro são minimizados). Fácil para todos os outros, mas não para mim. Nunca esquecerei o momento em que o avião levantou voo e pensei: “Mas o que é que eu estou a fazer? E para quê? Mas eu estava aqui tão bem!” Essa seria a opção mais fácil. Ficar, acomodar-me e chegar ao fim da vida e dizer que não fiz isto, aquilo e ter uma boa justificação. É sempre mais fácil adiar as decisões difíceis ou nem se quer tomá-las. Mas esse não é o meu carácter e essas opções deixar-me-iam a maior sensação de frustração.

Por isso aqui estou eu mais uma vez a bordo do avião e a pensar: “Mas o que é que eu estou aqui a fazer?”. Eu que nos últimos tempos nem tenho treinado tanto como devia e nem estou na melhor das formas físicas. Mas quanto mais tarde pior.

Depois vem a ansiedade de deixar a família. Aquele aperto no estômago que nos deixa sem fôlego. Cada momento que estou com as filhotas memorizo ao pormenor, como se fosse o último. Os pensamentos extravasam-se até aos dias em que estarei naquele barco do outro lado do mundo longe dos que mais me aquecem o coração. Tento replicar a sensação de vazio que vou ter e desmancho-me por completo. A sensação não é muito diferente daquela que vivi quando andei perdido no mar e em que me perguntava como é que me tinha ido meter numa situação daquelas.

Com isto, voltam os conflitos de ideias e repito: “Mas o que é que eu estou a fazer?”. Mas a certeza da opção correcta, dá-me a força necessária para me levantar e saber que esta vai ser mais uma fase da história da minha vida. Uma fase em jeito de aventura.

5 dias antes de partir: falta concluir o enunciado do exame, agendar visitas a casas para alugar, papeladas com o banco, comprar este netbook, fazer mais umas alterações e uns testes no MonoVstm, preparar as últimas aulas, comprar cenas para a viagem, actualizar as contas da administração do condomínio (sim também sou), preparar a capa e embalar a prancha, planear as próximas tarefas daquele projecto Valquíria, planear a mudança de casa com a empresa de mudanças, deixar as contas da creche, telefone, salário da empregada pagas, amortizar uma parte do empréstimo para não levar a machadada dos 0,5% da amortização antecipada, vender acções, fazer ponto de situação dos projectos de licenciatura e mestrado: Raid, RecGps e MsgBus, fazer a apresentação e discussão do projecto da disciplina de doutoramento, marcar a reunião extraordinária de condomínio, fazer o enunciado do 3º mini-teste, marcar hotel para a estadia de 1 noite em Kuala Lumpur, ir à farmácia comprar o medicamento para a Malária e outros, etc.

4, 3 e 2 dias antes: as mesmas coisas.

1 dia antes: papeladas com o banco, comprar cenas para a viagem, preparar a capa e embalar a prancha, planear a mudança de casa com a empresa de mudanças, fazer ponto de situação dos projectos de licenciatura: RecGps, fazer a apresentação e discussão do projecto da disciplina de doutoramento, marcar hotel para a estadia de 1 noite em Kuala Lumpur, ir à farmácia comprar o medicamento para a Malária e outros, etc.

Chegou o dia da viagem e ainda me faltava ir ao supermercado comprar cenas, comprar uma capa para o netbook e umas pilhas recarregáveis. Às 11.30 estava ainda a tratar de uma documentação da casa para a Mafalda e às 12:30 fechei pela primeira vez a minha mala. Às 13.30 estava a copiar um último filme para o netbook e esta era a hora de encontro no aeroporto com o Pedro e o Luís. Porque é que será que tenho a sensação de que me esqueci de qualquer coisa?

O stress e a sensação de esquecimento piorou quando na passagem dos detectores de metais fui obrigado a transferir todos os produtos de higiene da bolsa de toilete para um saco de plástico transparente que tive de ir adquirir naquele momento a uma máquina automática, mas tão automática, que só aceitava moedas de 1 euro e não dava trocos. Entretanto no meio do stress tive a sorte de ter um alucinado especado ao lado da máquina, meio com ar de turista, meio perdido que me ia dando as indicações. O meu stress era tanto que nem olhava direito para o homem (pois tinha a mala aberta com o netbook lá dentro a uns metros de mim e o Pedro que lá ficou também não parecia estar a dar muita atenção). Assim limitava-me a ouvir uma vozinha e seguir as indicações: “coloque aqui a moeda,… carregue num botão qualquer, …. a embalagem sai aqui.” E digo eu: “Bolas preciso de mais um saco para o Pedro e não tenho mais moedas”, ao que me responde a vozinha: “Cada embalagem traz 2 sacos.” E eu penso: “Espectáculo”. Dirijo-me então para a vozinha para agradecer e vejo que não se tratava de nenhum funcionário do aeroporto mas de um tipo qualquer, tão comum como o Jacob do Lost.

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Já em Amesterdão. O Pedro e o Luis estão no stress para entrar no avião. Eu estou cheio de fome e queria mesmo comer um cachorro e beber uma cerveja (mais pareço o Pedro). Mas o aeroporto é grande e nem sabemos onde fica o próximo terminal. Lá vemos uma placa que indica que o tempo médio de passagem até à porta E9 (nosso próximo destino) é cerca de 17 minutos e eu consinto em começarmos a dirigir-nos para lá. Agora temos que passar a zona de passaportes porque vamos sair do espaço Xengen (não faço ideia como se escreve isto).

Já na porta para o avião um amontoado de gente atropela-se para entrar e ainda faltam 30 minutos para partir. O Pedro e o Luis optam por se dirigir para a fila e eu como não estava com vontade nenhuma de voltar a um avião decido ir dar uma volta e encontrar-me com eles lá dentro. Nada para ver nesta parte do aeroporto - free-shops fechadas -  e rapidamente me junto ao meu grupo dos 3 destemidos.

O avião tem um ar simpático, pelos menos é moderno e actualizado. Só é mesmo pena é o fedor dos malaicos que vão aqui sentados atrás de mim. Que cheiro mais nauseabundo. Já nos serviram um Chardenaix do Chile, bem bom. Pena que os “cacaoettes” não tenham chegado nem para tapar o buraco de um dente. Aguardamos ansiosamente pelo jantar. Acabei de levar com uma flashada da máquina fotográfica do Luis. E nisto já se começa a sentir o cheiro do jantar. Já não era sem tempo…. Daqui a nada já tinha rodado os filmes todos do avião sem ter visto nenhum. É aquele meu tique de zapping. Dão-me um comando para a mão e eu não consigo parar de mudar de filme. Comecei com: Slum Dog Bilionaire, passei para o Dark Knight, depois o Amadeus e desisti quando cheguei ao Sex and City. Ainda não comecei a explorar a biblioteca que trouxe aqui no meu netbbok porque não queria gastar já a bateria. Bem tenho que desligar vou comer….

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[7 am Pt][14 malaicas] Uma noite de sonho, uma cama de prazer, conforto total, relax, um sono profundo e um acordar paradisíaco – tudo aquilo que NÃO se encontra numa viagem de avião e a nossa não foi excepção. Tenho sono, dói-me o corpo, anseio por uma cama e estou farto de estar aqui fechado. Bhaaaa…. o costume. Quando é que inventam o teleporte?

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16 de Junho – Kula Lupur

Chegados ao aeroporto segue-se o caos habitual. Ainda antes disso foi momento de grande celebração ao vermos que as pranchas tinham chegado. 1º Stress resolvido. 2º Stress – Como chegar a Kuala Lumpur? Fora do aeroporto começa aquele alvoroço dos indígenas a perguntarem-nos se precisamos de táxi. Acabámos por seguir a tipa que tinha melhor aspecto e nos deu mais confiança. Feitas as contas adquirimos a viagem de ida e regresso ao aeroporto por 120 euros – não me pareceu caro tendo em conta que a cidade fica a 80 Kms de distância.

A viagem de táxi foi tranquila (apesar de termos que aguardar uma hora de seca pelo táxi), o taxista não se calou 1 minuto e eu levei meia-hora para começar a decifrar o idioma dele.

O Hotel era fixe para o propósito que procurávamos que era tomar um banho e dormir. Tinha uma grande sala, dois bons quartos, cozinha e duas casas de banho e melhor ainda, ao contrário do que pensava os 100 euros por noite, eram pelo apartamento e não por pessoa. Além disso estávamos a cerca de 500 metros das torres Petronas. Ainda tivemos que resolver o problema das camas serem de casal e quererem-nos cobrar mais 80 Rms (20 euros) por uma cama extra. O assunto ficou resolvido com mais 1 cama extra e sem pagarmos nada mais.

Depois de nos instalarmos fomos fazer o típico city tour. Como a visita não foi preparada fiquei com a sensação de não haver muita coisa para ver. Demos a volta às torres Petronas, confirmando-se ser uma das mais belas obras de arquitectura da actualidade e demos uma volta pelos jardins em redor das torres que também estão ao mesmo nível de qualidade. Terminámos numa tranquila esplanada ao som dos repuxos de água que saltitam de um lado para o outro no imenso jardim que envolvem as torres.

Depois foi fazer horas para o jantar, mas por aquelas bandas já não havia muito mais para ver. De um lado das Petronas parece o paraíso e do outro um trânsito infernal só nos faz querer fugir. Acabámos por jantar na mesma zona e seguimos para a tão desejada noite de sono.

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1º dia - 17 de Junho – Padang

Foram as horas de sono mais preciosas da minha vida. Apesar de ter acordado várias vezes ou com frio por causa do ar condicionado, ou com o ecoar dos cânticos muçulmanos que se fazem ouvir em toda a cidade assim que nasce o sol, ou outra coisa qualquer. A dada altura continuava eu a ferrar a dormir e pressinto um vulto a entrar no quarto. Não liguei, porque como o Luís não tinha casa de banho na sala era perfeitamente normal que ele recorresse a um dos quartos. Era o Pedro e diz: “Miguel, já são 10.30.” Salteio abruptamente na cama e quase me estatelei no chão. “Fogo, então perdemos o pequeno-almoço?” ao que me respondeu: “Eu não, eu fui âs 7 da manhã.”

Corri completamente desnorteado em busca da sala de pequeno-almoço. Para descer do 20º andar ainda levei um bom bocado e a cada paragem desesperava. Quando finalmente chego à sala de refeições foi mais um enjoo do que propriamente um sonho. Vislumbrava-se comida própria de um almoço e não de quem está a começar uma manhã. A muito custo lá comi duas fatias de pão e uma chávena de leite pingada com uma água suja que seria supostamente café.

Seguiu-se uma correria de banho e arrumação de malas, para rumarmos de volta ao aeroporto. Não o mesmo onde tínhamos chegado ontem, mas um outro específico para voos low cost.

Desta vez a viagem de táxi foi o oposto da anterior já que o condutor pouco falava de inglês, expressando-se sobretudo à base de monossílabos. Chegámos atempadamente para o chek-in e lá despachámos as nossas pranchas pela 2ª vez.

Chegados à Padang reunimos metade do grupo no aeroporto enquanto esperávamos na fila para aquisição do visto. Ficamos aí a conhecer um grupo de 3 espanhóis que ia no mesmo barco que nós: Inhigo, Coldo e Hector (os dois primeiros são nomes bascos). Conhecemos o 7º elemento, o Miguel, que vinha sozinho ter com o irmão.

Do aeroporto seguimos para um Hotel onde nos iríamos reunir com o resto do grupo: o Charlie (que já estava em Padang), o Marcos (irmão do Miguel) e o Marcelo (um brasileiro de São Paulo).

Jantámos no Hotel e partimos às 8.30 para o barco para finalmente viajar rumo às Mentawai

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2º dia - 18 de Junho – Hideaway’s, Kandui, E-Bay

 Será que pode haver uma noite mais mal dormida do que num avião? Sim pode. Uma noite num barco em alto mar com vagas que parece que nos vão virar. No início a coisa até parecia engraçada como um ligeiro embalar de berço. Depois foi-se acentuando progressivamente. Primeiro ouvia-se o splash da água a ecoar no casco do barco: splash….. splash….. splash….. depois o barulho começou a aumentar e o espaçamento entre splahes também maior: SPLASH….. …… ….. SPLASH….. …… ….. SPLASH….. …… …… A dada altura já andávamos na cama a escorregar dos pés para a cabeça e nessa altura já era impossível dormir. Tínhamo-nos deitado às 23.00 e foi sempre assim até às 2 da manhã. Não sei se foi o mar que acalmou ou se foi o cansaço que me venceu, mas foi essa a ultima vez que olhei para o relógio.

Levantámo-nos às 6.30 e a envolvente parece um filme: Ilhotas e ondas a quebrar por todo o lado. Mas a quebrar com boa formação. Ainda andava meio atarantado pelo barco, sem saber bem o que fazer e já estão dois surfistas do grupo – Charlie e Hector – a saltar para a água. Depeniquei apenas umas frutas para não ficar muito cheio e quase que fui telecomandado para a água sem ter muita consciência do mar que iria enfrentar. Entrar numa nova onda deixa-nos sempre um nervoso no estômago. A mesma sensação de quando temos que fazer um seminário ou uma apresentação qualquer. Era assim que eu me sentia. 

O mar não parecia nada grande e apresentava-se bastante perfeito. O primeiro contacto com a água é estranho porque é semelhante ao de um banho de imersão. São 6.40 da manhã, está um lusco-fusco e o sol não se levantou completamente. Pela envolvente penso que a água não deverá estar muito quente, mas engano-me redondamente. Até está quente demais. Uma água mais fresquinha ia ajudar a acordar-me.

Começa a remada em direcção ao pico, a profundidade diminui deixando transparecer o fundo e vislumbram-se os primeiros corais. Gluc… Esta é sempre uma preocupação quando surfamos em fundos de recife – evitar os corais. O mínimo contacto deixa-nos uma ferida. Com um impacto maior, além da ferida temos direito a uma cicatriz de recordação.  

1º Hideaway’s – Fiz 3 ondas e o coração palpitou sempre muito forte. Na 1ª foi entrar e fugir. Na 2ª encostei e senti-a passar-me por cima de metade do meu corpo. Na 3ª fiz uma boa linha de onda e limitei-me a ir fugindo ao tubo.

2º Kandui – Fiz 5 ondas. Aqui a onda era bem mais forte. Algumas com 3 metros e houve show da equipa de profissionais de bodyboard portugueses (estavam a fazer uma viagem parecida à nossa num outro barco). Na 1ª onda ainda habituado ao ritmo da onda anterior apanhei uma por engano e mandei logo um bom tubo. Depois disso as outras 4 que se seguiram já foram de nível bem inferior. O crowd já estava próximo do impossível.

3ª E-Bay – Uma onda bem mais suave e haviam muito poucas ondas para a quantidade de surfistas a querer apanhá-las. Mais confiante tentei entubar várias vezes sem sucesso, acabando por ficar sempre lá de baixo. A onda era bem engraçada com 3 secções: uma primeira no pico, uma segunda a meio e uma terceira antes de entrar no inside bem rasa. Sempre que tentei passar a 2ª secção… catapum… ficava lá de baixo. Cada vez mais confiante e irritado por não conseguir, até que levei com uma bem assente que até me saltou o pé de pato (bendito shop de pé-de-pato... passado tantos anos foi a 1ª vez que deu jeito). Bem… acalmei-me e decidi ir-me embora e por isso cheguei-me mais para o inside, para iniciar uma onda logo na 2ª secção. Lá entrou uma com metrão e eu lancei-me com toda a garra na 2ª secção passando num tubo suave. Como queria sair de água continuei para a 3ª secção e arrisquei mais um tubo do qual também saí com sucesso. Este já bem mais profundo e com bastante adrenalina, mas quando saí o fundo já estava bem raso e já se viam alguns corais a fazer borbulhar a superfície da água. A parede também estava bem cavada e não facilitava a saída. Enquanto decidia o que fazer, acabei por ser envolvido por mais um tubo e mais um e voltei a sair com muita sorte e agora que a onda já estava mais pequena terminei já a sentir os corais a roçar nos pés. Que melhor forma de terminar o 1º dia de ondas.

Entre as surfadas fiz duas sestas e duas refeições, enquanto o barco fazia a viagem para o próximo local de ondas. Aqui ou se surfa ou se anda de barco – um stress. Quando finalmente parámos de vez ao final do dia já pensava que não era sem tempo.

O almoço foi tofu servido como um hamburger no pão cheio de salada. O jantar foi uma espécie de caldeirada de legumes com um peixe qualquer manhoso pescado nestas águas quentes. Souberam muito bem e terminou com um cornetto de chocolate.

No meio disto sinto-me num retiro espiritual. Há quem faça retiros de silêncio, outros retiros budistas e eu estou aqui. Longe da família, longe de tudo. Pior que tudo é nem poder falar com elas, nem sequer poder dar qualquer tipo de notícia. Estou numa das zonas mais inóspitas do planeta. Há 24 horas que não dou qualquer notícia para Portugal: nem telefone, nem sms, nem Email, nem Facebook, nem nada. Tenho saudades, muitas saudades mesmo. Algo inacreditável porque é misturado com uma sensação de impotência de não poder comunicar com ninguém e nem se quer ter a mínima ideia de quando vou conseguir faze-lo. E ainda faltam 11 dias para sair daqui… mais 1 dia de viagem para regressar a Portugal.

Porque é que me meti nisto? Eu sabia que ia ser assim (tirando a parte do incomunicável). Acho que nunca fiquei 24 horas sem dizer Olá à Mafalda. O que estará ela a pensar depois de passar mais uma noite em que desta vez não ouviu a minha voz?

Será que voltava a fazer isto? Não sei. Sabendo o que sei agora talvez não. Mas se não o tivesse feito iria viver no maior dos arrependimentos para o resto da vida.

E nas filhotas, nem vale a pena falar, porque qualquer palavra é mínima para descrever os meus sentimentos.

Ao mesmo tempo continuo a acreditar no destino como sempre acreditei e que todas as opções que tomo são sempre as correctas e têm uma razão de ser que se baseia no destino. Tal como isto aqui.

No final de contas até estamos a ter sorte com tudo o que se tem passado. A estadia em Kuala foi quase perfeita, as viagens também boas dentro do possível, o barco tem óptimas condições, a comida é saborosa e o grupo é porreiro. Nada de putos malucos ou malta excêntrica. Tudo malta na casa dos 30, 40 anos que trabalham e têm família tal como nós.

O mais novo é o Marcelo (brasileiro de 28 anos) que já está há 45 dias na Indonésia a fazer uma temporada. O “cara” trabalhava como consultor na IBM, até que um dia olhou para a vida e percebeu que havia um mundo inteiro por descobrir. Demitiu-se, despediu-se da mulher (a Mônica), fez as malas e veio para a Indonésia. Esteve primeiro em Bali, depois Nias e agora veio fazer a mesma surf trip que nós pelas Mentawai.

Depois existe um grupo de 3 espanhóis normalíssimos que vêm fazer esta viagem pela 3ª vez. Um 4º espanhol, o Charlie, aparentemente mais velho, que já surfou toda a parte do mundo e que nos últimos 10 anos passa sempre uma temporada na Indonésia. Este Charlie é uma verdadeira personagem, além de ter quase 2 metros de altura e um físico invejável, tem sempre uma atitude e um ar o mais sereno e tranquilo possível. Dentro de água transforma-se e é um autentico animal das ondas, dropando sempre as maiores, mais cavadas e mais fechadas. Um super-homem dos mares.

Depois há mais 2 irmãos portunhóis (o Miguel e o Marcus) que são mesmo portunhóis na assumpção da palavra. Pai português, mãe espanhola e que já viveram metade da vida em cada um dos países. Assim é super castiço velos trocar com a maior das naturalidades de língua como quem faz ALT+TAB entre dois programas do computador. Mesmo impressionantes, porque falam fluentemente tanto com sotaque espanhol, como com sotaque do norte de Portugal que é onde um deles trabalha actualmente.

No meio deste grupo o Marcelo (brasileiro) é quem faz as cerimónias, comunicando tanto em portunhol, como português, como em inglês quando fala com os indonésios. Às vezes baralha-se e começa a falar espanhol connosco ou inglês com os espanhóis. No outro dia ele dizia: “Cara, eu estou ficando maluco. Eu estou há 45 dias na Indonésia falando inglês e tentando aprender umas palavras de indonésio. Agora chego nesse barco e começo a falar também espanhol. Eu vou enlouquecer.”

Neste momento estou no meu quarto a escrever e todo o grupo confraterniza vivamente na sala. Legau. Amanha espera-nos Riffles e qualquer outra supresa…. Como é que vou sobreviver a mais 11 dias?

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3º dia - 19 de Junho – Rifles, John Candy’s (A-Frame)

Rifles é uma das ondas mais poderosas e famosas das Mentwai e como não podia deixar de ser o crowd abundava. Para ajudar à festa era a primeira vez da época que esta onda estava a funcionar em condições, contribuindo para que se amontoassem ainda mais surfistas do que aquilo que já é habitual. De tal forma que o grupo de portugueses pro’s acabou por dar de debandada depois de alguns desaguisados.

O dia de ontem tinha sido um dia bem equilibrado e acabado da melhor forma. Além disso lembrava-me que a primeira surfada tinha sido bem stressante, quase meio enjoada pela noite mal dormida e por isso não me estava a apetecer repetir a dose. Assim optei por ficar no barco a tomar o pequeno-almoço calmamente e dormir mais uma sesta.

Depois limitei-me a relaxar no porão do barco a observar as ondas e o esplendor da paisagem que me rodeava. Às vezes deixamo-nos levar pelo stress da busca das ondas e nem damos o verdadeiro valor ao paraíso que nos rodeia. Uma verdadeira obra da natureza que felizmente ainda se mantém quase em bruto. O mais próximo que vi disto foi na Phi-Phi island na Tailândia e mesmo assim não se compara a isto.

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Enquanto escrevo este texto começou agora a tocar uma das música que marcou umas das últimas fases da minha vida com a Mafalda (adoro todo o tipo de música e memorizo cada uma com cada fase da minha vida). Esta música marcou um fim-de-semana que passámos no Marvão quando estávamos grávidos da Margarida. Nunca a tínhamos ouvido e assim que a ouvimos ficou-nos para sempre, acompanhando-nos em muitos momentos.

Foi em Fevereiro de 2008, íamos no carro a chegar a Castelo de Vide debaixo de uma chuva torrencial e estava a dar um concerto acústico do David Fonseca na rádio. A cada música o David Fonseca explicava de uma forma muito espirituosa (mesmo ao seu estilo) o porquê e como tinha criado cada música. Esta que ficou gravada em nós chama-se: Kiss Me, Oh Kiss Me. E vincou definitivamente muitos dos nossos momentos.

A parte má de todo este paraíso selvagem é não termos comunicações para o exterior o que faz com que eu esteja perto de ficar à 48 horas sem comunicar com a Mafalda. Mas finalmente consegui um tracinho de rede que foi o suficiente para mandar um SMS a dizer “Tudo bem.”. Que desespero. O que estará a Mafalda a pensar disto?

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O Charlie como é habitual foi o primeiro a saltar para a água e o último a sair. Entrou ainda não eram 6.30 e saiu às 14:00. Os restantes fizeram duas sessões, repartidas com o pequeno-almoço por volta das 10.30. No final da primeira sessão todos se queixaram do imenso crowd e de ser quase impossível apanhar qualquer onda. Ainda por cima havia 5 hawaianos que estavam a dropinar toda a gente, tornando quase impraticável surfar.

Para a 2ª sessão as coisas vistas de fora aparentavam estar mais calmas e decidi-me aventurar a Rifles até porque este é um pico mítico que deve ficar no curriculum.

As coisas estavam realmente complicadas e os hawaianos deixavam um enorme mau estar na água. Pelo menos para mim. A onda é muito boa, com uma força monstruosa e um tubo fenomenal. Fiz 3 ondas razoáveis e acabei por sair e voltar ao “dingy” a remo sem qualquer onda porque já estava mesmo irritadíssimo de estar tanto tempo sem apanhar nada.

O almoço foi estranhíssimo. Desta vez era uma salada cheia de vegetais e uma molhanga de soja acre e doce que me deixou um bocado mal disposto. Seguiu-se mais uma sestinha e a viagem de barco para o próximo local de ondas.

À tarde surfei A-Frame, ou John Candy como também é conhecida. A surfada mais relaxada até ao momento. Que grandes ondas e que grande acalmia. Nada de stresses para apanhar ondas. Fiz as ondas que quis e não quis. Uma onda com um drop excelente, bom tamanho e uma boa massa de água. Depois enchia um bocado e não estava a dar grande tubo. Mas dava para manobrar bastante e curti que nem um leão.

No final tive uma cena alucinante e um susto de morte. Fiquei com o shop de um outro surfista enrolado no pescoço. Cena para esquecer.

Nesta noite tivemos direito a jantar de mariscada. Caranguejo grande e camarão tigre grelhado. Tinha visto os caranguejos ainda vivos quando os vieram vender ao barco. Eram bem grandes, cheios de carne e tinham um óptimo aspecto. Foi um jantar divinal.

No final da noite finalmente e com muito desespero consegui falar com a Mafalda. Aparecia um tracinho de rede e rapidamente desaparecia. Sempre assim. Vinha e desaparecia. Fui tentando por várias vezes estabelecer a ligação e esta acabava sempre por cair. Até que finalmente ouvi o sinal de chamar e do outro lado surgiu a voz da Mafalda num: “Tou” ao que respondi: “Tooooou” e a chamada caiu. HAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaa. Que angústia. Que raiva. Peguei novamente no telefone e escrevi um SMS para dizer como tinha sido bom ouvir aquele simples: “Tou”. Acho que foi a palavra da Mafalda que melhor me soube nos últimos tempos. “Tou”.

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4º dia - 20 de Junho – Bank Vaults, Ni Pussy (só entrei nesta) e Scar Crows 

Acordei bastante cansado. Devo estar a chegar aos limites da minha capacidade física. Voltei a optar por não entrar de imediato. Tomei o pequeno-almoço farto e só pelas 10.30 fui para a água.

O Pedro e o Luís foram logo na primeira sessão para Bank Vaults. Uma onda bem pesada e mais complicada do que Riffles porque a maioria delas fechavam. O Charlie na primeira onda partiu a prancha. O Marcelo partiu o shop e teve que ir buscá-la a uma ilhota rodeada de corais. Passou um mau bocado e chegou a pensar que não ia sair de lá inteiro. No final safou-se e só dizia: “Foi deus. Foi deus.”

Acabei por entrar na 2ª sessão da manhã em Ni Pussy com o Coldo, o Miguel e o Marcelo. Chegámos a estar 5 minutos sozinhos, mas rapidamente chegou um grupo de australianos e acabámos por estar uns 14 dentro de água.

A onda é uma direita com um pico principal onde se formam uns sets de 1,5 m e depois tem um outro pico incerto mais à esquerda onde entram uns sets pirata de 2 metros. O primeiro set pirata apanhou-nos a todos desprevenidos e fomos varridos. O Coldo que liderava as hostes e já conhecia o pico começou-nos a encaminhar para o centro, mas a mim não me estava a apetecer levar com aqueles sets pirata de 5 em 5 minutos e por isso optei por ficar sozinho naquele pico do lado esquerdo. Tinha que esperar mais tempo pelas ondas, mas estava super tranquilo que é aquilo que mais gosto na água. A paisagem em redor também era fabulosa. Ao contrário do que é costume tínhamos uma ilha de postal à nossa frente, no sítio onde a onda acabava.

A onda era bem grossa, com muita água e um drop muito alto, mas depois amolecia bastante. Parecia a onda típica da nossa Ribeira de Ilhas, mas com uma paisagem de filme em redor e água bem mais quente. Apanhei umas boas ondas com uns drops bem verticais e aos saltos por causa do vento. De uma das vezes ia colidindo com um surfista que vinha em sentido contrário a passar a rebentação. Ele ainda fez o bico de pato, mas tinha um shop muito comprido que ficou para traz e fez de chicote acertando-me com violência no pescoço, deixando-me a primeira marca desta viagem. Apesar disso continuei a surfar calmamente no meu local e a fazer algumas boas ondas descontraidamente.

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Hoje finalmente falei em condições com a Mafalda e com as filhotas. Foi muito bom e violento ao mesmo tempo. Nunca tinha sentido tantas saudades da família. Mesmo das duas vezes que viajei com a Mafalda e ficámos uma semana sem as filhotas a coisa não custava tanto a passar. Como se um compensasse o outro, acabando por completar um dos Ms que ali faltava e acabávamos por estar assim a 50%. Neste momento sinto-me a 25%. Os 3 Ms estão lá e eu estou aqui sozinho e é bem mais difícil superar esta falta.

De tarde não surfei. Sinto-me exausto. A parte mais chata de não ter surfado foi ter que responder 10 vezes à pergunta: “Mas não surfas? Estás doente?”. Aparentemente, não me parece nada estúpido não surfar umas horas, tendo em conta que surfamos uma média de 6 horas por dia e que ainda aqui vamos estar aqui mais 9 dias. Mas a opinião não é unânime. Para todos isto são ondas únicas que não se encontram em nenhuma parte do planeta e cada onda é uma onda que tem que ser aproveitada e não pode ser desperdiçada. Logo para eles a minha opção de não surfar uma das 36 oportunidades que temos é no mínimo estúpida.

Hoje à noite o jantar foi esparguete à bolonhesa e no final tivemos direito a gelado de morango com banana e chocolate derretido. Depois fizemos umas sessões de Wii começando pelo ténis e acabando com o Mario Kart que levou o pessoal ao desespero por não conseguirmos atinar com os comandos. É bem mais fácil manobrar uma prancha.

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5º dia - 21 de Junho – Hollow Trees, Lancies Left e Cobra

Quando o Pedro me acordou às 6.30 eu estava ferradíssimo a dormir. Bateu-me no braço e disse: “Vem só aqui espreitar à janela esta paisagem!”. Até me levantei meio desorientado e o cenário era mesmo fora de série. Ao contrário do que é normal, o nosso barco estava atracado mesmo de frente para a rebentação da onda, deixando a boca do tubo à mercê dos nossos olhos. Sentia-me completamente ensonado e perro e voltei a deitar-me na cama. Claro que já não consegui adormecer, mas estava-me a saber bem estar ali enrolado nos lençóis e por isso deixei-me ficar. Nessa noite tinha baixado a temperatura do quarto para muito frio e enrolei-me no cobertor que me soube muito bem (o Luís e o Pedro é que não acharam piada nenhuma e acordaram meio congelados)

Fui-me levantando muito calmamente e arranjei-me para ir surfar Hollow Trees. Esta onda também é um clássico das Mentawai. Em tamanho grande torna-se medonha. Mas desta vez e para meu agrado estava um tamanho bem acessível entre 1 e 1,5 m. A outra particularidade desta onda é terminar numa parte que lhe chamam a “surgery table” – um tapete de corais bem raso – que obriga a que não haja espaço a distracções e se saia da onda antes de aqui chegar.

As três primeiras ondas correram mesmo bem e mandei dois tubinhos. Na 4ª onda fui fechado e tive que contornar a onda por fora acabando por ser enrolado na espuma e levado para a mesa de cirurgia. Assim aqui trago a minha primeira tatuagem “made in Mentawai”. De resto foi uma surfada mesmo à Miguel, super tranquila, sem crowd, a rondar o 1,5 m e com um mar tubular.

A parte pior foi o tratamento da ferida de coral que consiste em 3 partes: 1º lavar com sabão, 2º esfregar com lima, 3º passar betadine. “Ardeu pá caral…”. Hirra que já há algum tempo que não me lembrava do sabor do ardor de um ferimento. O do coral tem ainda a característica de deixar a cicatriz marcada para sempre. Aqui levo o meu primeiro “recuerdo”.

Daqui fomos para Lancies Left. O swell continua a descer e as ondas não abundam, fazendo com que não se façam muitas ondas quando o crowd é maior. Foi o caso de Lancies Left e por isso optei por ficar no barco na 2ª sessão da manhã.

Acabei por entrar da parte da tarde por volta das 15:00. Que ardor ao por o braço dentro da água salgada. Ainda por cima um dos cortes é na zona do cotovelo, o que não dá jeitinho nenhum para manobrar sobre um bodyboard.

Nesta altura formavam-se dois picos de esquerda afastados de cerca de 100 metros – Lancies Left e Cobra. O primeiro era uma onda mais cheia e mole. O segundo era cavado e rebentava com muito pouca água. Como no primeiro as ondas demoravam muito tempo a vir acabei por ir mais o Pedro para o segundo pico, onde mandámos uns bons tubos. Nalguns chegávamos a ver a água a borbulhar debaixo de nós de tão raso que estava. A dada altura ficámos só os dois sozinhos nesse pico e a coisa já estava a ficar mesmo agreste, até que optámos por voltar novamente ao pico principal de Lancies Left antes que alguém se aleijasse. Já chega de corais por hoje.

O jantar foi peixes grelhados com legumes e batatas. Claro que não é grelhado como o nosso, mas à moda asiática, ou seja, embrulhado em prata, acabando por ficar mais com um aspecto de cozido. Ainda assim não estava nada mau e comi 1 peixe e meio. Era género carapau, mas com menos espinhas. O peixe aqui nunca tem grande sabor.

Felizmente acabámos por ter uma comida bastante diversificada, sem nunca termos repetido nenhum prato. Nota-se que o cozinheiro investe bastante tempo e dedicação a confeccionar as refeições e fica contente quando reconhecemos que a comida está boa.

Estamos novamente em zona sem cobertura telefónica. Vou novamente ficar um dia sem falar com a família. Vamos lá ver quando tempo vai durar este próximo período sem comunicações.