O mar sempre me deu uma sensação de serenidade que não consigo descrever e encontrar noutro ambiente. Gosto da proximidade do mar pelo simples facto de o poder contemplar e quase comunicar. Habituei-me a conviver com ele desde infância e é como se fosse uma parte integrante da minha família. (Olha o maluco)
Esta ligação foi reforçada durante aqueles anos em que tive uma casa situada a meio caminho entre a foz do Arelho e São Martinho do Porto (mais ou menos 5 Kms para cada lado - http://tinyurl.com/on6vyb). Era, e é (embora na altura ainda mais do que agora) uma zona lindíssima repleta de falésias (era esta uma das maiores paixões do meu avô, os passeios ao longo daquelas escarpas). Uma boa parte da minha história é contada por aquelas bandas e foi ali que se fomentou esta enorme paixão pelo mar.
Passava lá muitos fins-de-semana e um dos pontos altos era o passeio de bicicleta que fazia até à falésia para apreciar a soberba vista sobre o mar. Passava ali algumas horas a deambular, a observar a formação das ondas, a apreciar o pôr-do-sol, outras vezes a imaginar as múltiplas formas de escalar aquela encosta e outras apenas envolvido em mim, nas minhas reflexões, ou então (e isto mais tarde) apenas para fumar um cigarro.
A relação de ansiedade de ali chegar, pegar na bicicleta e ir ver o mar é a mesma que hoje sinto com São Jacinto quando lá chego e vou de imediato ver o mar. Sei que nenhum daqueles que lá passam alguns fins-de-semana comigo entende esta tara. Nem se quer devem perceber porque é que fotografo vezes sem conta o mar de São Jacinto. Mas é a mesma razão pela qual fotografamos vezes sem conta aqueles de quem tanto gostamos. Aquele mar também não é sempre igual e vai mudando.
Também sei que a Mafalda é a única que me entende na perfeição, porque ela é um pouco como eu nesta relação com o mar. Seria inadmissível que alguma vez fossemos a São Jacinto e por mais tempestuosas que estivessem as condições atmosféricas não fossemos ver o mar. Isso seria impensável.
Talvez por tudo isto uma das primeiras fotografias emolduradas que temos os 3 juntos (eu, Maf e Madalena) seja exactamente como panorama de fundo o mar revolto de São Jacinto. É quase como que se a fotografia não fosse a 3, mas a 4. Chamem-me tolo, mas é mesmo assim e em quase todos os grandes momentos da minha vida o mar esteve lá ao meu lado e agora ao nosso lado (parece que o gosto das minhas Ms pelo mar não diverge muito do meu).
Por tudo isto um dos obstáculos que mais me custou a superar durante aquela temporada em São Paulo, foi exactamente a falta de proximidade ao mar. Não estou a querer recriar uma novela em que eu andava todos os dias claustrofóbico a deambular, claro que não. Não pensava nisso, mas sempre que os meus pensamentos divagavam até ao mar, dava-me alguma sensação de aperto e sufoco.
Tudo isto já seria suficiente para manter a minha relação com o mar, mas desde os meus 12 anos que ela foi reforçada com a minha adesão ao bodyboard. Comecei pela famosa prancha santalon (que tem o mesmo significado de um ZX Spectrum para os aficionados dos computadores) e aos 14 anos passei para uma BZ, que foi a 1ª prancha em condições que tive e desde aí nunca mais parei até hoje. Houve períodos de dedicação menos assídua (como a temporada em São Paulo), mas nunca houve um abandono da modalidade.
Para mim nunca foi objectivo ser bom na modalidade, mas apenas praticá-la pelo enorme prazer que me dá, não só a nível desportivo, mas sobretudo pela a harmonia e paz de espírito que me traz. Por isso, usando um lugar comum, posso dizer que para mim o bodyboard nunca foi um desporto, mas apenas um estado de espírito.