Outros fenómenos, outros choques, outra língua, mas os mesmos problemas sociais noutro canto do mundo. Danny Boyle, que já era um excelente realizador, aprendeu bem a mecânica e dinamismo da filmagem aplicada por Fernando Meirelles na "Cidade de Deus" e "Fiel Jardineiro". A corrida alvoroça pelos bairros pobres de Bombaím não diferem muito das filmagens na “Cidade de Deus”ou num bairro pobre do Quenia do "Fiel Jardineiro". No entanto, quando a fórmula é bem aplicada, não há nada a dizer.
Além disso ainda conseguimos identificar o toque pessoal de Danny Boyle, reconhecendo o padrão já aplicado em Trainspotting e Shallow Grave (este último menos conhecido mas igualmente excelente).
A meu ver, e é apenas um gosto pessoal, acho que há um exagero de romancismo ao remate da história. Mas é aceitável, porque termina bem.
Bem filmado, intenso, comovente, boa banda sonora e um final contundente.
Não concordo nada com a opinião de que se trata de “O triunfo dos pobres”. É uma visão redutora e minimalista de um filme que conta história de dois irmãos que nascem num bairro pobre de Bombaim e que a par e passo acabam por seguir rumos diferentes. (Um pouco como a história entre “João Pequeno” e Buscapé, mas estes são irmãos). O concurso é apenas um “já agora” para contar esta história. E que está bem conseguido embora na parte final o desfecho do concurso tenha um protagonismo maioritário. Mas talvez não houvesse alternativa.
Se ao vermos este filme nos alhearmos da existência do concurso que corre em paralelo com a história, conseguimos retirar muito mais proveito dos seus conteúdos.
Para terminar resta constatar o que todos já sabemos sobre a fantochada dos Óscares. Danny Boyle e o filme vão ser premiados no momento errado. O realizador, porque fez outros filmes ainda melhores (o que não tira o mérito deste filme). O filme, porque tenta vender como inovador e original aquilo que foi criado há 7 anos atrás na “Cidade de Deus” por Fernando Meirelles.
Talvez, daqui a 10 anos Fernando Meirelles ganhe estes Óscares no momento em que não são tão merecidos. Ou talvez não, porque é brasileiro.