A “Cidade de Deus” na versão Bombaim

February 9, 2009

Outros fenómenos, outros choques, outra língua, mas os mesmos problemas sociais noutro canto do mundo. Danny Boyle, que já era um excelente realizador, aprendeu bem a mecânica e dinamismo da filmagem aplicada por Fernando Meirelles na "Cidade de Deus" e "Fiel Jardineiro". A corrida alvoroça pelos bairros pobres de Bombaím não diferem muito das filmagens na “Cidade de Deus”ou num bairro pobre do Quenia do "Fiel Jardineiro". No entanto, quando a fórmula é bem aplicada, não há nada a dizer.

 

Além disso ainda conseguimos identificar o toque pessoal de Danny Boyle, reconhecendo o padrão já aplicado em Trainspotting e Shallow Grave (este último menos conhecido mas igualmente excelente).

 

A meu ver, e é apenas um gosto pessoal, acho que há um exagero de romancismo ao remate da história. Mas é aceitável, porque termina bem.

 

Bem filmado, intenso, comovente, boa banda sonora e um final contundente.

 

Não concordo nada com a opinião de que se trata de “O triunfo dos pobres”. É uma visão redutora e minimalista de um filme que conta história de dois irmãos que nascem num bairro pobre de Bombaim e que a par e passo acabam por seguir rumos diferentes. (Um pouco como a história entre “João Pequeno” e Buscapé, mas estes são irmãos). O concurso é apenas um “já agora” para contar esta história. E que está bem conseguido embora na parte final o desfecho do concurso tenha um protagonismo maioritário. Mas talvez não houvesse alternativa.

 

Se ao vermos este filme nos alhearmos da existência do concurso que corre em paralelo com a história, conseguimos retirar muito mais proveito dos seus conteúdos.

 

Para terminar resta constatar o que todos já sabemos sobre a fantochada dos Óscares. Danny Boyle e o filme vão ser premiados no momento errado. O realizador, porque fez outros filmes ainda melhores (o que não tira o mérito deste filme). O filme, porque tenta vender como inovador e original aquilo que foi criado há 7 anos atrás na “Cidade de Deus” por Fernando Meirelles.

 

Talvez, daqui a 10 anos Fernando Meirelles ganhe estes Óscares no momento em que não são tão merecidos. Ou talvez não, porque é brasileiro.