Bocca - restaurante . bar

September 2, 2008

Muitos meses após o último jantar fora de casa, lá deixámos as nossas crias com os avós e aventurámo-nos numa saída a dois. Como estas ocasiões são mesmo raras (no panorama actual) planeei algo mais extenso. Não na hora de termino, mas na hora de início. Optamos assim por deixar as duas MMs logo por volta das 18:30 e ir beber um copo de final de dia a uma esplanada de Lisboa (“grandas” malucos). Escolhemos a esplanada da Graça que antigamente era um dos pontos de paragem dos nossos passeios por Lisboa.

 

Já num outro post manifestei que sou um apaixonado pela cidade de Lisboa e os passeios pelos seus bairros típicos, quer dia quer de noite são um dos meus deleites. No entanto, com miúdos os passeios à noite estão excluídos e de dia o leque de opções tornou-se mais limitado. Assim a última vez que tinha passado pela esplanada da Graça já fazia 4 anos, num final de Domingo após um esplêndido dia de praia, acompanhado de um pôr de sol fabuloso sobre a cidade e rematado com um jantar num pátio de Alfama.

 

Passados esses 4 anos lá estávamos nós ali novamente, não para jantar num pátio mas num dos restaurantes de moda do momento: o Bocca, cozinha de autoria do Chef Alexandre Silva (referência do Lifecooler que até agora tem-se demonstrado um bom guião para estes assuntos). Mas antes disso fomos fazer aquilo que mais facilmente nos esquecemos de fazer: nada. Fazer simplesmente nada. Ficar ali sentado na esplanada a beber um copo, na companhia de quem partilha a nossa vida e a saborear o simples prazer daquele momento. O prazer de estar envolvido numa paisagem de colinas decoradas com um castelo, uma sé, um panteão, umas ruínas do Chiado (como não tem igual no mundo), todo um conjunto de pitorescos detalhes particularmente únicos da nossa cidade e o enorme estuário do Tejo a emoldurar este belo quadro. Para se apreciar tudo isto e muito mais, não é preciso inventar temas de conversa, porque as palavras fluem com espontaneidade em cada momento. Uma música que nos faz recordar um jantar numa praia de uma ilha perdida, uns finlandeses que nos recordam uns “bacanos” com quem nos cruzámos noutro ponto do mundo, o cheiro de uma tosta mista deliciosa que nos recorda um fim de tarde esfomeados noutro canto do planeta, e por aí fora.

 

Depois de duas imperiais e uma tosta lá fomos até ao 2º ponto da nossa digressão: Bocca. Posso adiantar que gostei bastante e penso voltar (isto já é uma ilusão nos dias de hoje), apesar de o prato principal ter ficado abaixo das expectativas deixadas pela sua descrição. Combinava leitão com migas de espargos, que são dois ingredientes que aprecio bastante, mas nenhum deles se apresentou a bom nível. As migas tinham um toque pessoal do autor, que na minha opinião não favorecia comparando com o sabor mais tradicional das regionais migas alentejanas. O leitão era fraquinho. Mas lá está... isto de oferecer pratos típicos portugueses de forma sofisticada é um objectivo complexo e ambicioso, nem sempre devidamente atingido e que quando assim é mais valia não estragar. Enfim... O outro prato resumia-se a polvo à lagareiro novamente com toque de sofisticação. Este já foi um ensaio bem conseguido. Apresentava-se em 3 camadas, assentando numa cama de espinafres, seguido das batatas a murro e coberto pelo polvo. O sabor não era mais inovador que o tradicional, mas também não destoava, destacando-se pela combinação agradável com os espinafres e sua apresentação.

 

Mas afinal o que me fez gostar bastante? O espaço, a decoração, o ambiente, o excelente serviço, a visibilidade da cozinha, carta de vinhos e sobremesa. De todos estes aspectos volto a destacar o serviço. Sem ser demasiado ostentado, todos os empregados foram impecáveis e devidamente simpáticos, como é exigido (o oposto da arrogância com que fui servido no Vírgula e oposto da falta de cuidado apresentada no Cop3). Esta é a diferença de apesar de não ter ficado completamente vislumbrado com o prato principal, sair dali satisfeito e com vontade de tentar uma segunda oportunidade.