Está neste vídeo a ultrapassagem que nunca me cansarei de rever: http://www.youtube.com/watch?v=sfPM77TsGaA
Actualmente sou um adepto do motogp, mas nem sempre foi assim. Dantes apreciava bastante formula 1, no tempo do Gilles Villeneuve em que as corridas pareciam os actuais duelos de motogp, com ultrapassagens frenéticas e constantes. Vale a pena rever duelos como este: http://www.youtube.com/watch?v=kl2tIFxSEGA e pensar como é que a formula 1 se pode tornar na pasmaceira que é hoje?
Foi na altura da decadência da formula 1 (fim dos anos 80), que surge nas 500cc (antecessora da motogp) um senhor de nome Kevin Schwantz vindo do motocross e que veio apimentar as corridas então dominadas pelo Eddie Lawson e Wayne Rayney, que corriam nas duas melhores marcas: Honda e Yamaha respectivamente. Para quem não os conhece, as corridas de 500 cc com estes dois eram tão emocionantes como ver o Alain Prost… ou seja, remédio bom para as insónias.
O Schwantz corria na Suzuki, que era uma das marcas mais fraquinhas da altura, mas mesmo assim com travagens ao limite e curvas em derrapagem conseguia fazer frente aos gigantes da Honda e Yamaha, deixando na memória algumas das melhores ultrapassagens de sempre: http://www.youtube.com/watch?v=nWzUmUNd6a8
Depois do Schwantz sair de cena as corridas perderam um pouco o interesse. Até mesmo na fase final da carreira do Schwantz, houve uma grande recaída no seu desempenho devido ao acumular de inúmeras lesões resultantes dos seus acidentes.
Então no fim dos anos 90 começa-se a ouvir falar de um tal Rossi que dominava as corridas de 125 cc e posteriormente 250cc. Assim que chega às 500 cc em 2001, para a melhor marca de sempre – Honda – sagra-se campeão do mundo. Nesta fase a Honda colocava em quase todas as corridas cerca de 6 motas nas 10 primeiras posições e o pódio era sempre deles. Nos anos seguintes já como motogp, o Rossi continua a dominar e arrecada mais 2 títulos de campeão mundial: 2002 e 2003.
Mas como isto de ganhar estava-se a tornar monótono decide aceitar a proposta da Yamaha que desde 1992 não ganhava um campeonato do mundo. A mota era mesmo mais fraquinha mas nem por isso o Rossi deixou de ser campeão do mundo na 1ª época na Yamaha (2004) e voltou a repeti-lo ainda mais facilmente na época seguinte (2005), agora com uma moto bem mais competitiva e já próxima do nível das Honda.
Durante este período muitas promessas se ouviram falar como Max Biaggi, Sete Gibernau, K. Roberts, Melandri, entre muitos outros, mas nenhum conseguiu destronar o agora consagrado “Doctor”. Apenas serviram para reforçar a supremacia de Rossi, que chegava a tocar o sobrenatural.
E quando em 2006 o Rossi finalmente perde o campeonato do mundo para Nicky Hayden, ninguém aceita que este último seja alguma vez melhor que o Rossi, tendo tido apenas a felicidade que pilotos como Alain Prost tiveram pela sua faceta conservadora, que serve para ganhar títulos mas que afugenta e muito os adeptos dos desportos motorizados.
Em 2007 o Rossi volta a deixar fugir o campeonato do mundo, mas desta vez para um jovem piloto - Casey Stoner – que demonstra realmente argumentos e alguma daquela irreverência e loucura que vemos na condução do Rossi. Começamos então a interrogarmo-nos se não está a chegar ao fim o período dominador do Valentino Rossi, até pelo aproximar dos 30 anos de idade.
Mas o Doctor consegue sempre surpreender-nos. Reinventa-se e volta a dar cartas.
Nunca vi o motogp inundado de tantos jovens talentos como agora: Pedrosa, Lorenzo, Dovizioso e Stoner. A primeira corrida do campeonato deste ano, demonstrou que estes corredores têm mesmo sangue na guelra e trazem para o motogp aquilo que se pede e não conservadorismo. Foi assim nessa 1ª corrida e apesar de o Rossi ter sido destronado justamente por estes 4 condutores, foi impressionante a forma como ele os cumprimentou no final. Parecia que estava mesmo aceitar o fim da sua gloriosa década e que tinha de passar o testemunho às novas promessas. Acreditei mesmo nisso e fiquei contente por ver que o motogp ficava bem entregue. Mas enganei-me…
Neste momento o Rossi é primeiro no campeonato do mundo e melhor que isso têm sido os empolgantes duelos com que nos tem brindado. Um a um, foi deixando para segundo plano cada uma das jovens promessas como quem diz: “Calminha que eu já ando aqui há muito tempo e se calhar ainda tenho alguma coisas para ensinar aos miúdos…” Delicia-me ver a forma como o Rossi se foi superando ao longo da época. Ainda mais quando íamos vendo que estes miúdos não eram nada humildes e transbordavam arrogância, como era o caso do Lorenzo. Aposto neste último como o provável sucessor do Rossi, mas pela sua falta de humildade já se viu que nunca conseguirá igualar “The Doctor”. E mesmo que o Rossi não volte a ser campeão do mundo (o que não acredito) já provou que dificilmente alguém o conseguirá bater em todos os seus predicados.
Não me revejo na palavra fã. Mas este Rossi, muito para além de ser bom condutor tem atitudes de perseverança, resistência, irreverência, criatividade, luta, humildade e imparcialidade, que são um exemplo a seguir em todos os domínios. Por isso merece o meu destaque. Nunca ansiaria ser o Rossi, mas gostaria de alcançar estes atributos.
As corridas do Rossi não têm cautelas, nem táctica. A táctica é atacar de início ao fim. Nunca vi o Rossi deixar-se ficar numa posição mais atrasada apenas para amealhar pontos. Mesmo quando um 2º lugar era suficiente e uma queda poderia por em risco o campeonato do mundo, mesmo nessas alturas o Rossi lutou de unhas e dentes pelo 1º lugar. Às vezes ganhou, noutras caiu e noutras perdeu mesmo o campeonato do mundo. E mesmo quando perde tem o melhor fair play a que alguma vez assisti. Deixa mesmo transparecer a ideia de que prefere perder com uma luta cerrada do que garantir uma posição descansada no pódio. E isso é bem visível na forma como também aclama as vitórias de alguns colegas. Lembram-se da luta no GP do Estoril em que ganhou o Toni Elias: http://www.youtube.com/watch?v=jOOPqB8hWAc. A forma como o Rossi lutou em chuva e como após a derrota cumprimenta o colega não tem palavras. São tantos e tantos os momentos fantásticos que é impossível eleger o melhor.
Por fim tenho a sorte de ter visto muitas vezes ao vivo este senhor. Ficam as fotos da 2ª vez que o vi no GP do Estoril em 2003 (tinha eu então 28 aninhos). Na grelha de partida da esquerda para a direita vemos: Rossi, Biagi e Capirossi.