Este semestre fiz um levantamento junto dos alunos que veio confirmar uma convicção que já tinha. A pergunta era: Qual a forma que os alunos preferem que eu apresente os conteúdos das aulas: escrevendo no quadro ou com slides? Nenhuma resposta foi favorável aos slides. Pelas mais diversas razões os alunos manifestaram preferência em que os conteúdos fossem apresentados no quadro e não em slides. Passo a transcrever alguns dos comentários mais relevantes nas respostas dos alunos:
- «… por slides existe uma tendência natural para os alunos "não fazerem nada"…»
- « A aula (por slides) fica bastante mais rápida, o que é mau para reter informação…»
- «…assim que o slide desaparece mesmo que eu queira rever alguma coisa, já não é possível,…»
- «…com slides, eu pessoalmente, não consigo perceber nada e muito menos estar atento,…»
- «… (no quadro) fico com elementos de estudo melhores, pois é-me mais fácil estudar pelos apontamentos tirados nas aulas do que ir ler slides…»
A isto seguiram-se mais duas perguntas minhas:
1ª Eu: Nas outras disciplinas os professores usam o quadro? Alunos: Não.
2ª Eu: Isso significa que só no meu caso é que preferem aulas no quadro? Alunos: Não. Nas outras disciplinas não temos opção. Se tivéssemos, preferíamos que fosse usado o quadro.
Nenhuma destas respostas foi novidade para mim. No entanto, sempre que falo com colegas que usam exclusivamente slides para leccionar as aulas ouço dois tipos de respostas, que andam em torno do seguinte:
1. “Os slides que faço têm muito conteúdo e fornecem-lhes tudo o que necessitam para os exames.”
2. “Aquela matéria que ensino é impossível de expor no quadro.”
O primeiro comentário nem merecia resposta. Mas não aguento. “Os slides… fornecem-lhes tudo o que necessitam para os exames”, quer isto dizer que o objectivo é fornecer-lhes conteúdos para fazer exames. Bem, eu sei o que isso é, até porque fiz a licenciatura no IST e lá não se fazem disciplinas por conhecimento da matéria, mas sim por engenharia de exames (eu sei que não é correcto generalizar, mas isto tem que ser enfatizado e é mesmo assim). Ou seja, não interessa se os alunos percebem o que estão a fazer, mas sim que consigam passar nos exames. Para isso também defendo que os slides são a melhor forma de difusão dos conteúdos, ou seja, para passar em exames. Quer-se lá saber dos livros.
Mas para aprender os slides não servem. Alem disso quem faz a validação, reconhecimento ou crítica dos slides? Os livros são alvo da opinião pública. Os slides não.
Para aprender existem duas formas: ou os livros (forma de registo e divulgação reconhecida do conhecimento científico), ou o professor, como responsável pela transmissão desse conhecimento aos alunos.
Sobre o segundo comentário, respondo assim: eu que lecciono disciplinas numa área científica com uma curta história como a Informática e Computadores, não uso esse argumento. Como é que disciplinas leccionadas há muito mais anos necessitam agora obrigatoriamente de slides? Claro que é complicado para mim escrever determinados programas no quadro, claro que é complicado exemplificar no quadro como é que o compilador faz a tradução para linguagem intermédia e escrever no quadro nessa linguagem, claro que é complicado esquematizar no quadro stack frames, objectos, diagramas de sequência, registos, memória, etc… Mas se estou convicto e os alunos reafirmam que assim aprendem, então eu tenho que me esforçar e preparar as aulas para sejam leccionadas no quadro.
Um colega uma vez disse-me e é verdade: “Demonstrações em Power Point nunca falham!” Em suma, os slides servem para descontrair e facilitar a vida ao professor. Não aos alunos.
Se eu desse aulas exclusivamente em slides, só por descargo de consciência é que usaria argumentos como os 2 comentários acima. Porque parece-me que no fundo é isso que muitos professores tentam fazer: convencerem-se a si próprios de que os seus slides são bons e não têm os defeitos dos outros.
Seria eu hipócrita se fosse dar aulas em slides e esquecesse como abominei as “más” aulas de slides que me foram leccionadas em algumas disciplinas da LEEC no IST (1992-1997), tais como Engenharia de Sofware. Em todas essas aulas o professor lá se posicionava no seu estandarte junto do retroprojector, com o seu enorme dossier de slides do lado. Tira slide, põe slide, tira slide, põe slide, …. tudo isto com uma tremenda elegância e agilidade de mãos, acompanhado de um tom de voz baixo e monocórdico, que deixava uma plateia de alunos em pleno sonambulismo hipnótico. O quadro permanecia limpinho, sem uma grama de pó de giz. Vá-se lá sujar o quadro para quê?
Agora no ISEL também vejo professores que leccionam como aquele professor de Eng. de SW. O quadro também fica limpinho e o apagador até serve para ficar debaixo do projector a servir de elevação.
Não sei dizer aos meus alunos como mudar este sistema. Mas encorajo-vos a dizer: “Professor, não percebi os últimos 5 slides que passaram.”
P.S. -> Pedia aos adeptos das aulas por slides (NÃO os que ensinam, mas aqueles que as ouvem, ou ouviram) que deixassem aqui o seu veredicto, porque eu ainda não ouvi ninguém defender os slides, a não ser professores.