Ficamos exaustos do dia anterior e a Maf sugere praia. Paradise Bay. Lá consulto o mapa de autocarros para nos pormos a caminho. Levamos a seca do costume. Enquanto esperamos dou pela falta dos calções de banho: “Mau... algo me diz que este dia não vai correr bem.” São 11:30, ir ao hotel e voltar implica perder o autocarro e só apanhar outro lá para o meio-dia e tal, e chegar à praia por volta das 13:30. Isso está fora de questão. Até estou com uns calções mais ou menos finos que se devem safar dentro de água. Não há outra solução e será mesmo assim.
Paradise Bay fica numa ponta da ilha e a viagem de autocarro é bastante longa, cerca de 1 hora. Em vez de sairmos na paragem correcta (penúltima paragem) seguimos até à última que fica mesmo na outra ponta da baía. Ao longe apreciamos a vista da praia, o caminho é bastante árido e a temperatura já está bastante alta. Azar do caraças, ir a pé até lá vai ser um esticão. Ainda mais com este calor. Isto não está a correr mesmo bem.
Iniciamos a caminhada e ao passarmos numa outra praia pequenina vemos uma tabuleta a anunciar “taxi boat” para Blue Lagoon. O passeio a pé não está nada a apetecer e a lagoa azul era um dos locais que desejávamos visitar, por isso apostamos em ir até lá. Pagamos 4 Liras cada um (10 euros cada) e vamos com mais um casal de italianos. Blue Lagoon é uma das principais atracções turísticas de Malta que se situa na pequena ilhota de Comino, onde foram rodados diversos filmes. Na realidade não se trata de uma lagoa mas de um braço de mar que atravessa uma ponta da ilha de Comino, dando a sensação de uma lagoa.
Estava bastante vento e o mar cheio de “carneirinhos”. A lancha estava bem apetrechada com 2 motores de 250 cv. As ondas pareciam rampas de lançamento, que nos faziam voar de crista em crista e o impacto de cada contacto com a água era extremamente violento. Chegámo-nos o mais para trás possível, para junto do motor, de forma a não sentirmos tanto a força dos embates. Fiquei bastante preocupado com o 4º M. Aqueles saltos não são nada recomendáveis durante os 2 primeiros meses de gravidez.
Finalmente chegamos e somos deixados numa zona onde se encontram vários barcos de indivíduos que andavam a praticar mergulho. O piloto lá nos indica a direcção da lagoa azul, já que o barco não poderia ir até lá. São 13:00 e acordamos para as 17:00 a hora de regresso.
Começamos a subir o penhasco e ficamos impressionados com o verde cristalino da água que deixa transparecer o fundo. Faz lembrar imenso Phi Phi Island. À medida que nos aproximamos da lagoa azul começamos a ver uma série de pessoas espalhadas pela encosta. Neste caso a encosta é mesmo a pique e a laje junto à margem é extremamente pequena, estando completamente à pinha de gente. Hummmm.... Sim senhor, a lagoa é espectacular, mas agora onde é que nós vamos ficar até às 17:00? Enfim, logo se verá.
No fim da laje, num cantinho da encosta lá vejo um espacinho sem ninguém. Nem percebi que era de uns tipos que estavam a sair e onde estava uma italiana à espera desse lugar. Passei por ela, pelos outros tipos que se acabavam de arranjar e lá me instalei no cantinho. A italiana ficou fula, mas ainda ficou um bom espaço para ela e seus amigos (mais espaço do que para mim. Mas nós somos pequenos e arrumamo-nos em qualquer lado).
Pé ante pé, com muito cuidado porque as rochas além de aleijarem os pés são escorregadias, lá vamos em direcção à água ansiosos por um banho. Realmente é fantástica a água e o enquadramento da lagoa naquela paisagem. Muito bom. Dou umas braçadas em direcção ao centro da lagoa, paro e de repente começo a sentir uma picada aguda no braço, com a intensidade a aumentar cada vez mais e a transformar-se num enorme chupão, acompanhado de uma dor aguçante. Agito a água, a mordida parou, mas não vejo nada. Bolas, bolas,.... Que dor!!!!! Agarro-me ao braço e sinto uma enorme batata, do género daquelas que ficam quando levamos a vacina do tétano. E a dor é semelhante, mas ainda mais forte.
Já refugiado em terra uma espanhola lá do alto do penhasco vê-me agarrado ao braço e diz-me: “Una picada? Eu também!” Raios partam com o mal dela podia eu bem. Pelo menos não sou caso único, se é que isso serve de consolo. Olho com mais atenção e lá percebo que além da batata tenho uma mancha branca do tamanho de uma moeda. Que fixe.... este dia está a correr mesmo bem.
No fim da lagoa havia um ancoradouro para barcos cheio de chapéus-de-sol e cadeiras. Algum nativo devia estar a explorar aquele espaço e talvez me esclarecesse que raio de coisa é que me tinha mordido. Vou até lá.
Lá no meio do ancoradouro, na posição de chefia dois nativos sentados debaixo de um chapéu-de-sol, de óculos escuros a olhar para o infinito e a comer um pêssego. Meto conversa e o tipo nem desviava o olhar do horizonte. Grande cromo. Passo a explicar-lhe que algo me tinha mordido na água, mas que não sabia o quê porque não tinha visto nada. Com isto consegui chamar-lhe a atenção e este lá dirige o olhar para o meu braço. Olha para o colega com um riso nos lábios, como quem diz: “Mais um turista totó!” e só me diz: “Medusa”. Medusa??? Medusa aqui??? Grande azar!!! E agora? O tipo que pelos vistos já estava habituado a situações daquelas, saca de um frasco género “glassex” e dá-me duas borrifadelas de vinagre para o braço. Uau... agora já estou muito mais descansado. Fui salvo por um nativo e um frasco de “glassex” com vinagre. Brilhante.
Passado este episódio já nem tenho mais vontade de banhar-me naquelas deliciosas águas cristalinas. Porque será? O sol está quentíssimo e ficar sentadinho numa rocha até às 17:00, também não me parece uma opção. Por isso, apesar de não ser a vontade da Maf, lá decido passar o resto da tarde no ancoradouro dos barcos numa cadeirinhas de praia, protegido por um “umbrella” a curtir o meu livro de férias (4 Liras = 10 euros). O cenário não é o melhor, ou até mesmo fraco, mas era o único local onde estávamos protegidos do sol. O sítio também não é o ideal para tomar banho, mas a água mantém a mesma cor e não intimida a infinidade de turistas que ali param. Embora desagradada a Maf lá se vai banhando por ali e eu ao fim de 3 horas lá deixei o trauma da medusa e dei um mergulho e nada mais.
Se algum dia visitarem sugiro que além da lagoa azul, façam o passeio a pé de cerca 2 Kms até Santa Marija Bay. A ilhota é muito pequena e dá para apreciar mais umas vistas. De facto acho que fiquei um bocado bloqueado com a cena da Medusa e nem me lembrei mais de consultar o guia. Paciência, não vimos essa parte.
O regresso foi novamente de saltos nas ondas e mais uma hora de autocarro até Paceville. Para relaxar fizemos o habitual banho de piscina de fim do dia com a vista tranquilizadora do Mediterrâneo.
Nessa noite jantámos num restaurante maltês, “The Maltese”. A Maf come apenas uma sopa típica de Malta bastante completa concorrente da nossa sopa de pedra. Eu vou num “Beef Olives”, que consistia em finas fatias de carne enroladas e temperadas com ervas e um recheio de carne picada. Não foi mau, talvez a sopa da Maf tenha saído melhor que o meu prato. Os preços os do costume.