Semana das entrevistas

November 22, 2006
Na semana passada fizémos entrevistas a 3 candidatas para empregadas domésticas cá de casa. As 3 eram oriundas de países diferentes. Para que os pareceres não tenham um carácter xenófobo vou omitir as nacionalidades delas, até porque uma delas não se saiu tão mal como as outras.
Com a primeira candidata começou mesmo mal. Ainda bem talvez. Assim as minhas expectativas ficaram muito baixas e seria difícil aparecer alguém pior. Claro que os meus juízos são em grande parte feitos pela aparência, mas que outros critérios poderia eu ter?
Foi a Mafalda a receber a 1ª candidata. Eu estava no meu escritório a terminar algo e só depois fui ter à sala. Assim que chego à porta da sala e olho para o sofá ao fundo, fico quase petrificado. Na minha frente vislumbro uma mulher na casa dos 45 anos, estatura média, gordinha e com uma cabeleira avulta e bem oxigenada. Vestia uma roupa preta, com um body semi-transparente colado ao corpo que acompanhava as banhas da barriga. Devidamente ornamentada com anéis dourados (não sei se ouro ou não) por todo o lado, estilo o BA do A-Team. E finalmente um acentuado baton rosa-choque coloria os lábios daquela enorme boca repleta de dentinhos amarelos a fazer lembrar um chimpanzé.
Depois de lhe tirar as medidas o meu 2º pensamento foi: “a tua cara não me é estranha da rua do Técnico”. A partir daqui a todas as respostas que ela dava ao questionário da Mafalda eu tirava segundas ilações. Do género, a Mafalda: “Então e onde é que esteve a trabalhar antes”, ela: “Estive a trabalhar na casa de um senhor idoso… bla.. bla… no fim ficámos mesmo muito chegados… eu até o tratava por avô.” eu pensar: “pois… pois… devias dar muito apoio ao velhote.” e ela continuava: “pois… eu ao fim-semana não poderei trabalhar cá porque tenho um outro compromisso em que estou ocupada.” e eu a pensar: “àaa…. além de aviares o velhote ainda vais fazer uns biscates a uma casa de alterne no cais sodré.”
Depois desta, veio uma segunda candidata com 26 anos. Bastante humilde e muito introvertida, sobretudo comparando-a com a anterior que falava sem ninguém lhe perguntar nada. Além disso, nem se quer olhava para mim quando lhe fazia perguntas. Apenas se dirigia à Mafalda e rapidamente fugia com os olhos, como que não querendo ser impertinente. Mais tarde viemos a saber que esta gente esforça-se por servir unicamente a “patroa”.
A 3ª candidata de 55 anos, parecia saída de uma tribo de indígenas. Passado 30 minutos da hora marcada ainda andava a Mafalda agarrada ao telemóvel a dar-lhe indicações de como ela chegaria a nossa casa. Já nos últimos metros antes de alcançar a nossa porta, estava a Mafalda agarrada ao intercomunicador a dar-lhe as últimas instruções: “Vá lá… eu estou a vê-la. Vire-se mais um bocado para a sua direita. Não. Para o outro lado. Isso. Rode mais um bocadinho. Ok, pare. Agora ande em frente em direcção a essa porta. Isso continue. Pronto. É o 4º andar. Suba.”
Se isto parece mal, acreditem que ainda piorou. Passado uns 5 minutos ela ainda não tinha aparecido no 4º andar. As luzes dos elevadores davam a indicação de parados. “Mafalda, não é melhor ires ver onde é que ela ficou? Será que vem de escadas?”. A Mafalda lá sai de casa fula e passado uns minutos lá aparece com ela a rirem-se. Olha para mim de escapadela e encolhe os ombros como quem diz: “Enfim…”.
Passamos à fase da entrevista e eu não percebia nada. Ela falava pessimamente mal português e eu que já sou duro de ouvido tinha alguma dificuldade em descortinar aquele dialecto (e até já tenho uns descodificadores de dialecto estudantil). Mas aquela nada.
Quando já consigo perceber alguma coisa lá me atrevo numa pergunta: “Então e a Sra está acostumada com crianças?”. Ela: “Ó sim. Claro que estou. Eu gosto muito de crianças. Já tenho 4 netos e agora tenho uma sobrinha pequena e também gosto e ajeito-me muito com ela. No outro dia até estava em casa com ela a querer fazer uma arrumação e ela estava sempre chorando e aí peguei num pano e enrolei-a às costas e lá continuei limpando com ela toda contente.” Eu e Maf: “Muito prazer, até à próxima.”